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A Minha Primeira e Derradeira Crônica



          Escrever crônica sem dúvidas é uma coisa absolutamente chata, não tenho vocação para ficar esmiuçando a vida dos outros e tampouco comportamentos cotidianos e repassá-los pro papel,apesar de ser deveras viciante, estou lutando para vencer tal vício, esta será definitivamente minha primeira e derradeira crônica, feita tal ressalva sigamos para o principal.
          Certo dia estava eu entediado creio que comigo mesmo, e resolvi observar as outras pessoas, não existe lugar melhor para tal desiderato que um shopping lotado, ali, maldigam os estudiosos da mente, mas, creio ser o lugar ideal para as mais diversas e variadas análises comportamentais, aquelas cadeiras de madeira espalhadas por todo o local são os locais preciosos para tais estudos comportamentais para se matar o ócio, logo, ao me acomodar em uma delas avisto um velho esclerosado que passa desfilando de mãos dadas com a mocinha de seus vinte e poucos anos, a enchendo de sacolas de presentes, como que para compensar as poucas horas de cama ofertadas para a jovem em troca de muitas horas de compras, não demora muito tempo, e começo a perceber uma coisa interessante, ali as pessoas se definem pelas marcas das sacolas que estão segurando, percebi, que pessoas que ostentam sacolas de grifes, como Don Juan, Vagamundo, Richard, Brooksfield e outras grifes mais famosas são mais silenciosas, caminham devagar, falam baixinho, e exalam muitas das vezes flagrâncias francesas que ao pouco se confundem com aquele típico cheiro de shopping, aquele cheiro de batata frita misturado com cheiro de sapato, já as que trazem consigo marcas como Riachuelo, C & A e Lojas Americanas, são sobremaneira diferentes daquelas anteriormente citadas, são barulhentas, normalmente acompanhadas de uma penca de crianças, caminham rápido e sempre gritando, e exalam um odor característico de Leite de Rosas e Herbíssimo.
          Shopping tem destas coisas, ali dá pra se fazer um verdadeiro tratado comportamental da vida alheia, desde aquelas vendedoras que usam calças tão baixas que qualquer marido menos descuidado com a presença de sua esposa pode correr o risco de passar o resto do dia ouvindo reclamações pelo fato de ter dado aquele sorrateiro e instintivo olhar em direção àqueles corpos semi desnudos a sua frente, a aqueles vendedores que querem ser amigos íntimos de todo jeito, perguntam seu nome, puxam assunto, e ainda contam piadas sem o mínimo de graça, estes vendedores nos impulsionam sempre a pensar em falar: de-me minha roupa, não tomarás cerveja comigo, não serás padrinho de meu filho e muito menos recordarei jamais o teu nome!, matuto quando se avista um por lá se percebe logo, sempre estão tirando fotos, tiram fotos na escada rolante, tiram fotos em frente aos cartazes de filmes, e na praça de alimentação, este último local é um dos locais que mais se assemelham a verdadeiros viveiros de periquitos, afinal se vai pra lá pra comer ou pra conversar?, olhem ao redor quando ali estiverem, não sei onde se arruma tanto assunto para se falar, ali é o point onde se reúnem o velho esclerosado com a mocinha, os dislumbrados matutos tiradores de fotos, aquelas pessoas finas e educadas com suas sacolas de grife, e o pior, as pencas de crianças estão lá também com o corriqueiro grude no pescoço, juntamente com suas mães que quase nunca param de berrar, em meio de tanta balburdia e com um cheiro encruado de Leite de Rosas, Herbíssimo, Pólo, Carolina Herrera, e sapatos com batata frita eu saio de fininho, com uma recorrente certeza, que prefiro definitivamente poesias ao odor inconfundível e impregnante das crônicas...
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 05/09/2009
Reeditado em 23/10/2015
Código do texto: T1793350
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