As sacolas do Apocalipse

“Sou do comércio, não posso fazer isso, pois o freguês sempre tem razão”, é o argumento da moça do caixa da farmácia quando, além de recusar a sacola plástica que me oferece, digo que ela não deveria oferecê-las. Bem, é melhor do que o argumento da atendente na verdureira de supermercado que não admite colar o preço diretamente no mamão que escolho, pois “se os sacos plásticos estão aí, são para serem usados”.

Houve um tempo, sim, em que se ia às compras com sacolas de pano, de fio (fabricá-las durante as aulas de trabalhos manuais, nas escolas, era uma maravilha, pois podia-se “enrolar” durante um ano inteiro...) ou de palha, ou com cestas de vime ou taquara. Não havia sacolas plásticas nos estabelecimentos e, que eu saiba, sua ausência não causou nenhuma doença incurável em alguém. Quanto tempo duravam nossos obsoletos utensílios? Uma eternidade, acho. Verdade, naquele tempo usava-se cumprimentar até os desconhecidos; havia algo de errado, sem dúvida.

No mundo, são consumidas entre 500 bilhões e um trilhão de sacolas plásticas, anualmente. São recicláveis? Se for considerado o custo financeiro e do meio ambiente, uma ova que o são. Mas são ótimas para poluir, entupir bueiros, matar a flora e a fauna (incluindo gente).

Bangladesh as proibiu em 2002, após constar que as ditas cujas foram uma das principais causas das catástrofes de 1988 e 1998, devido à contenção das águas que provocaram. China, Irlanda, Ruanda, Israel, Canadá, Índia, Botswana, Quênia, Tanzânia, África do Sul, Taiwan e Singapura foram outros países que as proibiram. No Estado de Himachal, na Índia, quem desrespeitar a lei que proíbe sua utilização é punido com prisão de até sete anos, além de multa equivalente a R$ 3,5 mil.

Começa, em São Bento do Sul (SC), um debate com vistas a diminuir ou eliminar o uso das sacolas plásticas no Município. Oxalá seja rápido e exitoso, vindo a ser criada uma lei proibindo sua utilização e multando quem não a cumprir. Bastam duas coisas: querer fazer e fazer. Simples assim. E o custo financeiro é baixíssimo, considerando as verdadeiras fortunas que os comerciantes gastam adquirindo as famigeradas sacolas hoje em uso. Sacolas e caixas de uso permanente estão entre as soluções mais simples, baratas, rápidas e acessíveis para as compras. Existem outras, o que não pode continuar é a não solução apocalíptica, a não ser que seja isso que desejamos deixar como herança para amanhã. Se houver amanhã.