História banal

História Banal

Jenny sentava-se ao piano e, enquanto esperávamos o cafezinho, punha-se a dedilhar a conhecida obra de Ketelbey, num piano de teclas frouxas; no meio do Mercado Persa, seu pai vinha em seu socorro, com um violino "extra de vários", alternando acompanhamento com solos. Eu fixava a fofura das mangas do vestido de rendas de Jenny, que tinha uma flor de cetim à altura da cintura, compondo um quadro de Renoir; pintor que cito num gesto de boa vontade! Além de não gostar da citada peça, gostava pouco da pianista cheia de empáfia; todavia, ouvia com atenção, embora ela não conseguisse passar o mínimo de emoção, martelando as teclas em sons dissonantes. Tinha fixação por um casamento e, desde a mais tenra idade, assumia compromissos, que tinha como definitivos; inaugurou o estilo de manter antigos namorados como amigos chegados, causando mal estar nos amores da ocasião; morava numa casa com um grande quintal, nos fundos de um armarinho, onde podiam ser encontrados artigos fascinantes como sedas, brocados, cetins, rendas etc. Costumava organizar festas colossais e freqüentes, pois, comemorava, além dos aniversários da família, aniversários de seus ex-amores; sendo assim, tinha-se festa todos os meses. Sua última festa foi chamada de festa de noivado, em que ela pretendia fazer uma surpresa, reiniciando um namoro com mais seriedade, usando alianças; como o indigitado noivo não apareceu, entrou em desgosto agudo, dando-se prazo até à meia-noite, para que aparecesse o príncipe encantado; infelizmente antes do prazo, enquanto Gregório Barrios se desmanchava em lágrimas cantando "Dos Almas", Geny entregava a alma a Deus, explodindo junto a uma panela de pressão à qual tentara aconchegar-se.