Oito da manhã
Oito da manhã, a chuva caindo sobre o telhado, mostra que é um bom dia para não fazer nada, simplesmente ficar em casa e, se possível, debaixo das cobertas, apenas ouvindo o gostoso barulho das telhas. Claro se fosse um sábado ou domingo, mas ainda é sexta-feira, e quando menos se espera (na verdade se espera, porém torce para não acontecer) o telefone toca. Reluto em sair da cama, insistentemente o telefone continua tocando, me levanto e vou atender:
- “Alô!"
- "Alô!! Seu Regor??? Esqueceu de vir trabalhar???"
- "Primeiramente bom dia!!! Que isso patrão, longe disso, é que com essa chuva não dá para trabalhar."
- "Chuva??? Aonde??? Estou esperando!!!"
- "Mas..."
Tum... Tum... Tum...
Pronto, desligou sem ao menos aguardar a resposta. Sem alternativas, despedi-me da minha cama e dos meus cobertores, bebi um “meio” café (quase engasguei) e pernas pra que te quero, antes de sair, uma breve olhadinha para o céu, um comentário com São Pedro e muitos palavrões.
- "Vai trabalhar com esta chuva???" - perguntou minha mãe.
- "Ele falou que lá, o céu está limpo, sem perigo de chuva. Fazer o que???"
- "Não vai levar o guarda-chuva???"
- "Acho que não precisa, até mais tarde!!!"
No meio do caminho para o ponto de ônibus, um baita toró inesperado. Voltar ou não voltar??? Molhado, continuei debaixo de muita água, estava quase desistindo quando uma alma caridosa, uma conhecida, ofereceu carona até o município vizinho, com a roupa encharcada, agradeci o favor (o chamado c... doce), mas ela falou que não tinha importância, entrei no carro, meio que sem jeito, perguntou aonde ia todo molhado e respondi que estava indo trabalhar, chegado ao destino, apenas na metade do trajeto, agradeci mais uma vez pela carona. Enquanto isso a chuva não cessava um minuto, abriram as torneiras lá em cima, provavelmente, dia de limpeza. Faltava mais uma condução, agora era esperar o ônibus que me levasse à empresa, ou melhor, próximo a ela. A essa altura resmungando o porquê de não ter ficado em casa, ou no mínimo ter seguido o conselho da mãe e ter trazido o guarda-chuva, e já sentindo os primeiro efeitos colaterais da chuva, molhado por inteiro, chego ao destino.
- "O que aconteceu??? É só chover não vem trabalhar???"
- "Mas como vou trabalhar com essa quantidade de água caindo, se o meu serviço é externo???"
- "Não quero saber!!!"
- "Você falou que aqui o tempo estava bom!!!!"
- "Pois é, começou agora!!! Está dispensado!!! Me volte amanhã!!!"
Contei até dez, até quinze pra dizer a verdade, bebi um gole de água, e molhado voltei para casa. No meio do percurso, os primeiros espirros, em casa, febre de 39º, me livrei da roupa, tomei uma chuveirada quente e retornei para debaixo da coberta, muito chazinho de camomila, pára acalmar, afinal se o “safado” tivesse dito a verdade, não estaria nessa situação e muito chá de hortelã, pára amenizar a febre, naquele momento já sabia que tinha perdido o meu fim de semana. No dia seguinte, nova ligação:
- "O que está acontecendo??? Não veio de novo???
- Pô patrão estou com uma p... febre, por causa da chuva de ontem.
- "Uma garoinha de nada??? Brincadeira né...
- "Até segunda!!! Se eu estiver bem!!!
Tum... Tum... Tum...
Agora era a minha vez de não esperar ele terminar de falar, desliguei o telefone e calmamente voltei para o meu abrigo, da onde não deveria ter saído ontem pela manhã.