NO JARDIM DAS ACÁCIAS


Saí da casa de minha mãe e andava calmamente, a caminho da casa de uma tia.
Na esquina encontrei com ela, com um vestido estampadinho em azul, portando uma sombrinha, um tanto sôfrega.
Tinha o rosto levemente curvado, semblante meio abatido, não me permitindo ver seu rosto. Sentia que se escondia. Sem saber o porquê, ainda de cabeça baixa, me indagou:
_ Aonde vai? Disse-me com ar de autoridade ,que lhe era peculiar.
_ Na sua casa. Disse-lhe .
Ela logo respondeu agressivamente:
_ Vai lá fazer o quê?
_ Ia lhe fazer uma visita, ou será que não posso?
Ela respondeu imediatamente:
_ Não pode e não quero!
Durante todo o tempo que falava, mantinha o rosto curvado e encoberto pela sombrinha.
Continuando estranho diálogo, disse-me, de forma ainda agressiva:
_ Vês aquele chapéu ali?
Eu disse:
_ Sim, vejo - o.
Era uma cartola toda mesclada em azul e branco, alegre nas cores vivas, como as usadas pelos palhaços em shows para a criançada.
Respondi-lhe, que não apanharia, pois nada tinha a ver com a cartola ali jogada.
Já estava ficando irritado, quando de súbito,chegou correndo T. minha prima e neta dela, que gritava:
_Não converse com ela! Esta não é ela! Deixe-a e vá embora. É uma desconhecida.
Foi quando acordei. Era um sonho, ou melhor, acho que foi um pesadelo. Não sei explicá-lo. Sentei-me à cama muito nervoso, com o rosto banhado em lágrimas , sem saber o que acontecia.
Tinha o pensamento longe, sem conseguir concatenar as idéias e o rosto em pranto ou suor, no entanto, sem chorar.
Esta tia, faleceu há 45 dias . Fiquei ali sentado na beira da cama e na minha mente só o rosto de meus netos. Aí sim, acho que caí em mim e me vi na estrada da vida, onde já caminhei muito mais do que me falta para chegar ao fim.
Olhando para trás, quantas pedras ...Umas grandes, outras pequenas. As grades foram fáceis. Eu as enxergava e desviava o caminho, mas as pequenas eu não via e quase sempre tropeçava e caia. E mas quando ia ao chão , alguém segurava minha mão e me dizia:
_ “Levante meu filho, olhe para frente. Outras pedras virão e eu estarei sem aqui junto a você”.
Assim consegui vencer as barreiras, que são impostas aos negros e pobres neste País, cujo preconceito é velado com os menos favorecidos.
Sou hoje um homem, que continua procurando a verdade. A verdade, que só Deus em sua infinita bondade nos ensina.
Um dia chegarei ao fim do caminho e lá estará o Jardim das Acácias .

Ruy Silva Barbosa
Enviado por Ruy Silva Barbosa em 06/09/2009
Reeditado em 03/10/2009
Código do texto: T1795831
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