O sapo que queria ser príncipe

Alguns não gostavam dele, por conta de sua presunção e da forma com que tratava outros sapos, sempre com uma boa carga de desdém. O fato de não aceitar ser sapo não contribuía nem um pouco para sua simpatia, mas, tirante isso, era um bom sapo. Competente, caçava os insetos com ótima pontaria, o que lhe possibilitava escolher os melhores acepipes, e tinha um belo coaxar.

Dons não lhe faltavam, era esperto como poucos e sabia dispor as plantas da lagoa de forma atraente e agradável. Não que dê para chamar de dom, mas era especialista em formular e efetivar intrigas. Era querer e conseguir, nem que precisasse se fingir de amigo, nem que precisasse mostrar uma solidariedade que, decididamente, não possuía.

Pois assim vivia, e poderia ser melhor se não tivesse essa pretensão de ser príncipe. “Ainda caso com uma princesa, vocês vão ver.” “Quem tudo quer, tudo perde”, lhe diziam. Não valia para ele. Revidava: “Tudo quero, tudo ganho.”

De tanto querer, tinha que acontecer: conheceu uma princesa. O reino não era lá essas coisas e a princesa, ele o sabia, se interessou por ele muito mais por conta da tristeza que sentia do que pelo charme emanado. Mas era uma princesa e havia um reino. Já era um começo.

Primeiro, tratou de envolvê-la até que acreditasse que ele era sua última e única opção. Fragilizada, a princesa caiu como uma patinha, ou melhor, uma sapinha. Depois, acercou-se da rainha e do rei. Com ela não foi tão fácil, mas do rei, descobriu os pontos fracos e passou a explorá-los de todas as formas possíveis. Escrúpulos não fizeram mais parte de seu repertório. Chegou lá: o rei exigiu que fosse chamado e tratado como príncipe e, com isso, conquistou a corte. Não toda, mas havia grande número de seus membros que eram cegos, outros surdos, outros com graves problemas de discernimento, e esses tomaram conta, com as bênçãos do rei.

Havia aqueles que não eram cegos, nem surdos, nem lhes faltava discernimento. Esses diziam: “Não é um príncipe, é um sapo intrigueiro”. Ele sabia que era verdade, mas se contentava com a bajulação dos cegos que o tratavam por “Alteza”, embora não tenha deixado de coachar.