MINHA BICICLETA
Sempre fui apaixonada por bicicleta. Um dia, Lúcia, minha amiga de infância, chegou correndo...
-Célia! Célia! Vem ver o que o papai comprou pra mim!
-O que é? Nossa!!! Que bicicleta linda! Deixa eu dar uma voltinha?
-Não. Papai não quer. Você vai arranhá-la todinha.
-Não vou, não, Lúcia. Eu juro. Deixa eu andar, deixa?
-Você sabe andar?
-Não, mas você me segura que eu aprendo, oras!
-Olha lá, hein! Cuidado! Não vai cair, senão...
-Eu tenho cuidado. Segura aí atrás. Empurra. Ai! O que faço agora?
-Pedala e olha pra frente. Cuidado com a pedrona na esqui-i-i-naa...
-Socorro! Como é que para este trem? Ai! Me ajudem!
-Nossa! E agora? Papai vai me bater! Olha como a minha bicicleta ficou!
-Juro que não tive culpa, Lúcia. Joguei-a na pedra pra parar. Mas você viu? Aprendi a andar. Deixa eu dar outra voltinha? Agora, não tem problema. Ela já está toda amassada, mesmo.
Lúcia mudou-se para a Rua Seca, longe de casa e Maria do Carmo ficou sendo a minha melhor amiga. Estudávamos juntas e todos os dias eu a levava para o colégio, no bagageiro da bicicleta dela. Como eu gostava!
Quando me formei no Curso Normal e comecei a lecionar no Grupo Escolar Machado de Assis, comprei, de segunda mão, a minha primeira bicicleta.
Não tinha o dinheiro todo e o tio Ió me emprestou o resto que faltava. Quando recebi o meu primeiro ordenado, fui pagá-lo, mas ele não recebeu. Sempre rezo pela sua alma e peço que Deus lhe dê um bom lugar no céu.
Casei-me e vim morar em Vitória.
José, com medo de me perder, atropelada por um carro, vendeu a minha bicicleta. Que tristeza!
Depois de vinte e oito anos ele comprou uma novinha. Estou realizada. Saio de manhã, toda feliz e vou para o calçadão, à beira da praia:
-Ei, Iara! Quer que eu a carregue na garupa?
-Quero, mas você não vai me derrubar? Olha o meu Reumatismo.
E lá fomos nós. tinha mais de um século em cima da bicicleta.
No outra semana.
-Célia, como você está toda folgada em cima dessa bicicleta!
-Claro, Penha! Esperei tanto tempo para ter uma! Olha que delícia!
-Ei, metida! Não conhece mais a gente só porque estamos a pé?
-Conheço sim, Regina. É que eu estava tão entretida, pedalando.
Pouco mais na frente.
-Puxa! Esvaziou o pneu! Vou enchê-lo naquele posto de gasolina.
-Dona, não vai ter jeito. A senhora passou em cima de uma tachinha.
-Ah, não! Agora tenho que empurrá-la? E as minhas amigas?
-Que amigas?
-Você não conhece! Ih! Lá vêm elas! Vou passar pela outra calçada. Tchauzinho.