A Estrada dos Homens

Já é quase noite e posso ver da janela do trabalho os pássaros voarem em direção ao descanso. Ah, que inveja de quem sabe voar! Na estrada dos pássaros não há placas, semáforos, buzinas e gente descontente a xingar pedestres e motoristas. Na estrada dos pássaros não há buracos, pelo contrário, simplesmente há a liberdade de escolha de novos rumos e ainda é possível observar nosso mundo cheio de homens confusos. Na estrada dos homens os passos são sempre os mesmos e sempre para o mesmo lugar.

Na estrada dos pássaros é possível ver o sol descansar sem ter aqueles Arranha-céus a encobrirem o espetáculo. O que fizemos de nossa estrada? Que caminhos são estes, que não nos permitem ver beleza? Que estrada é essa que os homens escolheram trilhar? Qual prêmio se esconde por trás de toda decepção da vida que nós, da estrada dos homens, insistimos desbravar?

Na estrada dos homens, há carros dentro das pessoas, há dinheiro dentro das pessoas, enfim, há o descartável dentro das...Pessoas? Talvez não sejam mais “pessoas”. Na estrada dos homens, passeiam máquinas que outrora fora homens. Dentro das pessoas, coisas inúteis fortalecem a morte das mesmas.

Os humanos não param mesmo para observar a estrada dos pássaros, pois se julgam superiores, inteligentes e crêem que estão no caminho certo e nem sequer vislumbram seguir outra estrada senão a estrada do caos diário.

A mim cabe o sonho de aprender a voar um dia, pois dentro de mim não há carros e nem dinheiro, dentro de mim ainda há um coração que pulsa calmamente, como se a esperar pela cura de todos os homens, como se a esperar que um dia os pássaros olhem para baixo e sintam inveja de nossa estrada.

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"Estrada dos Homens" é um texto que meu amigo Dunga me enviou por e-mail. Não o escreveu movido por pretensões literárias ou qualquer coisa do gênero, mas por uma necessidade vital de comunicar sua angústia e compartilhá-la com os amigos mais próximos. Faço parte (com orgulho, embora) desse seleto grupo de amigos mais queridos do Dunguinha. Num primeiro momento, ao ler o texto, sugeri que ele publicasse, alegando que a belíssima mensagem que o texto encerra não poderia ficar confinada na memória de uns poucos amigos leitores. Num primeiro momento meu amigo relutou, naquele seu jeito acanhado, simples de ser. Mas agora está aqui, publicado no Recanto das Letras com o seu devido consentimento. A ele dedico um abraço com toda gratidão.

Texto de Tiago Alexandre do Santos Almeida, meu amigo Dunguinha - Escrito no dia 14-08-2009

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Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 12/09/2009
Reeditado em 12/09/2009
Código do texto: T1805626
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