O poder da ereção ultrajovem

E no calor abrasivo da tarde, confirmava-se a grande inquietude daqueles jovens que já em idade púbere, não se calavam fácil, uma vez que havia necessidade de que a atenção se direcionasse a mim, professora daquela turma, frenética, mas pacífica. Indolente ao conhecimento que os estudos da língua sobrepujam, todavia agradáveis e solícitos quando eram convidados a contribuir com o processo interativo que requer uma aula de 'língua portuguesa'.

Sempre percebi o quanto alguns dos meninos da turma pelos olhares que somente um docente aprende a perceber, o tão insinuante olhar observador, que lançam aos encantadores percursos curvilíneos da preceptora e seu trejeito com ares de que " eu não estou nem vendo", o insinuoso olhar, e ouve-se, circunlóquios sob múrmurios ao pé do ouvido... E os risos? Faceiros e cínicos a pausar uns sobre outros.

Que estariam conjecturando para questionar ao meio da aula, desviando a linha de raciocínio do assunto ali tratado? Identificando o sujeito nas orações absolutas ou o seu predicado quanto a classificação?

Para aqueles ávidos adolescentes o que pairava na mente era somente um substantivo abstrato, para mim... , mas para eles, era caso de saber ou não saber do que se tratava - ereção - apenas esse vocábulo de três sílabas estava como substantivo concreto, pois que era óbvio aos 'semblantes'.

Todos ali, excitados na pergunta que não queria calar, no entanto, o receio de serem advertidos à falta de atenção ou ao inconveniente questionamento para o momento, era bem maior.

Até que um dos incautos ali presente, atreve-se no lance do questionamento a queima roupa:

_ Professora, o que é ereção?

E todos se entreolham ao mesmo tempo acanhados e curiosos à reação da professora que notando não se tratar apenas de curiosidade adolescente , e sim, de uma falta de informação, conhecimento tão necessário a educação sexual de nossoss jovens, a história da grande maioria "sabemos mais ou menos , mas gostaríamos de ouvir sua opinião."

E foi assim, combinado um acordo que contando com a atenção deles à aula- raciocínio completado - retornaríamos ao questionamento, subtraindo as dúvidas.

Concluída a aula, pedi a um aluno mais ousado que conceituasse a seu modo, o mesmo não perdeu a parada:

_ É pau duro, professora!

E ali todos ruborizaram e ao mesmo tempo, perplexos pelo atrevimento do colega, fixavam-se em mim, no aguardo de uma resposta ou chamada mais rígida., um dos dois, conhecendo a professora- ela é fogo - diziam os mais céticos.

E os abordei explanando, com um pau na mão, que havia buscado na área da escola:

_ Seria isto ? Perguntei resfolegante.

Todos unissonamente, responderam num redondo não. E assim, o mesmo aluno inquerido a explicar, respondeu - se tratar de um pênis ereto.

E não perdendo o fio de assunto tão prudente esclarecer e debater em sala de aula. Retruquei:

_ E na mulher? Como se apresenta a ereção?

E todos ali curiosos, aguardavam explicação. Até que outro incauto e mais entendido como diriam os antigos:

-É pelo seio, professora!

- Ah, também posso dizer, professora?

_ Sim , diga.

_ Pelo pinguelo.

Foi quando intervir a explanar de forma mais adequada sobre os termos politicamente corretos na ciência da linguagem:

- Clitóris - é o nome técnico que a ciência através dos estudos da anatomia humana considera como descritivo.

E assim, todos saíram mais certos de que naquele dia, não só a aula tinha valido a pena ,mas termos chegado a conclusão que se a liberdade de expressão não fosse respeitada nunca poderíamos dizer o que pensamos e como ouvimos... para então, nos educarmos propriamente com o devido direito de arguição numa sociedade que prima pela democracia, somos assim, livres, neste direito também universal do homem. Bravo!!!