DOMINGO

Abro os olhos e lembro que hoje é domingo, dia especialmente vago, oficialmente dia de estréia no campeonato rural afogadense, jogarei por uma equipe que não conheço nem os meus companheiros de clube. Ainda debaixo do grosso lençol sinto um vazio dentro de mim, fora apenas um sonho de um desejo incontido. Percebo que não estou sozinho há uma presença feminina em casa, tentei sentir o cheiro de café quente, mas, recebo através do olfato o cheiro de chuva lá fora. Fecho os olhos tentando imaginar os últimos acontecimentos, os últimos sonhos. Dia frio e chuvoso, excelente para ficar em casa, assistir TV, ler, escrever brincar com a minha pequena.

Levanto-me escovo os dentes juntamente com a voz infantil em meus ouvidos fazendo perguntas, indagando qualquer coisa incompreensível para a sua pouca idade, barulho de passos na cozinha, servindo o café da manhã, abro o jornal ali mesmo na mesa, tentando analisar as manchetes do dia, principalmente no caderno de esportes. Como surge um raio também surge uma discussão sobre fatos do pretérito, sofrimentos quase cicatrizados. Meu consciente processando rapidamente as informações recebidas, buscando nas páginas do jornal uma tangente que permitisse escapar do bombardeio feminino. É insuportável ao extremo tal situação, permitindo um clima pior do que o do cotidiano, levando-nos a regressar no tempo e sofrer dobrado.

A vida leva e traz a paz ao coração de cada pessoa, conduzindo-nos a ambientes estranhos, jamais visitados, mas, sempre desejados, um livro interessante que me transportasse ao mundo das fáceis resoluções, como Música ao Longe de Érico Veríssimo, retratando o cotidiano de um povo, os anseios de uma família nobre passando a conviver com a decadência da época.

Afinal hoje é domingo, dia de clássico entre São Paulo e Corinthians, dia de assistir um bom filme em família, dia de macarronada com milho verde e ervilha. Isto é apenas um delírio de várias noites mal dormidas, o estresse do trabalho. Várias reuniões, produções inacabadas, livros lidos pela metade, estudos não concluídos. Tudo girando em torno das resoluções possíveis, faltando saber quem terá a coragem de tomar a iniciativa. Por causa da pequena, único elo de verdade entre nós, é que tudo que fizermos, será com uma reflexão sobre ela.

O amor entre homem e mulher só será amor quando ambos vivem a mesma perspectiva de futuro, a mesma visão de mundo, um participando da vida do outro, onde a confiança terá que ser total, o diálogo será imprescindível para uma boa convivência e uma relação duradoura. Nada será além dos medos e segredos, erros e acertos, e, quando algo chega ao fim, não adianta tentar recuperar o que passou, seguir em frente onde a luz explode em todas as direções, abrir os braços e encarar as situações impostas por uma sociedade retrógrada e maldosa. Buscar a felicidade onde ela esteja, evitando não repetir os mesmos erros, cada passo será para uma mudança, ao final de tudo, cada um poderá ser feliz em ambientes diferentes, em mundo distintos, em fases contemporâneas aos costumes e nível de cada um. E assim vai meu domingo, frio, sozinho, apreciando a chuva na companhia de um bom livro, esperando a próxima boa emoção que a vida poderá proporcionar.

Antonio dos Anjos
Enviado por Antonio dos Anjos em 14/09/2009
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