OTÁRIOS DE M...

Prof. Antônio de Oliveira*

Não sei por que temos tanto preconceito contra determinadas palavras.

Na verdade, um médico que se preze não usa a palavra merda com um paciente, sobretudo se for uma senhora, mesmo na privacidade de um consultório. Pessoas de certo nível de educação, não necessariamente de escolaridade, costumam nessas horas recorrer a um eufemismo, procurando suavizar, no contêiner significante, o conteúdo significado, isto é, o que vai pela caixa de esgoto, no caso. Como o repertório, no contexto do presente texto, é rico em baixarias, esse material é fruto do que engolimos, digerimos e nem sempre podemos fazer dele o uso que julgarmos conveniente.

Isso só para Excelências. Senador pode!...

A palavra acima, que, por uma questão de decoro, a partir de agora,

neste texto, será indicada por m... afinal não deve ser tão indecorosa assim, pois recentemente usada por um senador calheirescamente, na nossa maior casa de decoro parlamentar. Sua Excelência preferiu, na sua verve ameaçadora, não usar eufemismo. Foi direto ao assunto, sem rodeios eufemísticos, curto e grosso, como parece não convir a Excelências.

Substantivo normalmente feminino, também não precisava ter acompanhado pleonasticamente a expressão: “Seu coronel de m...”, pois, como substantivo masculino, um m..., já significaria pessoa insignificante, sem valor ou sem préstimo, ao que tudo indica, como Sua Excelência considera um colega, também Excelência.

Aliás, é bom que se lembre, primeiro, que o pleonasmo não tem nada a ver com a patente militar de coronel, mas coronel como chefe político, em geral proprietário de fazendas no interior do Brasil. O termo naturalmente já pejorativo, mas respeitado e temido, costuma designar quem ascende à mais alta hierarquia e partilha, como político, de um meio de excelências. Parece que esse tratamento, assim como o uso de terno e gravata, é “conditio sine qua non” para participar de debates e embates.

Como se trata de casa legislativa, que dita normas, no caso, a torto e a direito e com o dedo em riste: “não aponte esse dedo sujo para cima de mim” (bis), acho que podemos passar a usar m... com naturalidade, aliás, oportunamente, juntamente com a Reforma Ortográfica. Não houve alteração ortográfica na palavra m..., mas parece ser agora palavra consagrada oficialmente na fala senatorial. A menos que Sua Excelência, o que eu considero muito pouco provável, tenha usado a dita palavra como gíria de teatro, paradoxalmente indicando boa sorte, bom êxito.

O que concluir de tudo isso? Será que o povo, para o qual eles não estão lixando, pois entendem que a opinião pública é volúvel e pode ser manipulada e comprada, ainda não se deu conta de que nós, povo, não somos cangaceiros, portanto muito menos de terceira categoria.?

Somos, na verdade, é... otários de m...

*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

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fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/09/2009
Reeditado em 15/09/2009
Código do texto: T1811552
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