O CHOQUE É DE ORDEM

O "choque de ordem" é a frase do momento.É a bandeira em ação da nova admistração publica.É a novidade do ano e muito boa para a organização e assim o embelezamento desta cidade e mais precisamente do nosso bairro.Começou no inicio deste ano.Estou aplaudindo por um lado,porque os espaços na verdade não podem ficar assim ao Deusdará, sem um controle,até porque se deixar sem o mesmo e, é o jeito que está em certas áreas, não poderemos mais sair às ruas e assim circularmos mais livremente.É desobstruir então as passagens de nossas ruas e calçadas.

Se por um lado é muito bom e revitaliza áreas e a cidade ganha em aparência e organização,por outro lado...ah!...por outro lado!...vamos perdendo aos poucos a alegria e o jeito de ser de nossas ruas.Ora,a cidade é... nossas calçadas.E acredito que em nenhum outro lugar acontece o que se passa por aqui,onde é nas suas calçadas que o Rio acontece.É nas suas calçadas que a ginga se manifesta.É nas calçadas que a moda se faz.Muito de ruim pode acontecer nas nossas calçadas,mas o bom do Rio,o melhor do Rio não são sómente os pontos turisticos,as montanhas e tudo que diz respeito aqui.O melhor do Rio são as pessoas que fazem as ruas.e quero aqui me referir à grande parcela da sua população que tem o comércio informal de rua.Estou me referindo ao nosso bom amigo o qual denominamos de "camelô".O amigo do nosso cotidiano.

Se por um lado a cidade fica ordenada... por outro... a cidade e o nosso bairro vai tomando outra aparência também na sua alegria.O Rio é a rua e quem faz suas ruas são principalmente eles,os camelôs.Tem vendedor que está há dez,quinze,vinte anos em determinado ponto esbanjando a sua simpatia,alguns até já conseguiram ganhar a fama deixando para trás as calçadas.Sabemos de grifes que os copiam tamanha é dose de criatividade.Aliás não existe nenhum que não seja criativo. Nessa nova ação alguns conseguiram registrar e assim legalizar o seu ponto.Outros não,e assim terão que deixar o lugar e nunca mais voltar...Aos poucos vamos deixando de ver muitos deles.É comum você ver sempre um sòzinho/a sem a sua mercadoria no seu ponto,que vai estar rodeado de gente,como a dar um apoio e querendo saber até com o intuito de se poderá ter condições de ajudar pois pelo tempo houve a criação de laços afetivos.Alguns choram,reclamam porque foi levada toda a sua mercadoria.A maioria teve grandes prejuizos.É a crise no trabalho informal de rua.

Alguns poucos considerando o grande número deles, conseguiram portanto legalizar o seu "ponto" na rua..A maioria não,porque é muito grande a procura e não poderá usar as áreas destinadas a transeuntes.Há que haver um controle.Então...é isso que estamos vendo por aí...uma certa tristeza no ar e uma correria daqueles que teimam e ao sinal da vinda da fiscalização saem em desespero pelas ruas afora,sempre com alguém para dar uma cobertura. A cidade está desassosegada,está um pouco desarrumada está assim em crise eu diria que de sua própria identidade.Eu sinto muito por eles,claro."Eles" representam a realidade do nosso Brasil.Na sua maioria são desempregados mesmos que estão a improvisar a vida com a sua criatividade e assim poder tirar o sustento de suas famílias.O numero deles é o numero de desempregados.

Por outro lado,e Infelizmente, as cidades cresceram tanto que está inviável morar em algumas delas.O sistema nos forçou a esvaziar o campo,todos forçados a vir para as grandes cidades,Onde se tem todos os serviços disponíveis,passando a cidade a ser um grande polo de atração.É aquele velho pensamento de que Ser feliz é poder viver na cidade grande,porque é onde tem tudo até o emprego e assim as grandes realizações de vida.Mas essas cidades já não são mais as mesmas.Vem sofrendo já há muitos anos as tristes consequências do seu crescimento,pois se encontram inchadas, superlotadas,stressadas,violentas e etc.Principalmente as grandes megalópoles,tem mais gente que espaço.E essa pessoa que atua como trabalhador informal, nada mais é do que uma das grandes vítimas das "cidades de hoje",ou seja,cidades estranguladas.

Mas voltando àquele outro lado,esse lado triste,Estou aqui agora lembrando de um ex menino que hoje é um Senhor e constituíu familia e cresceu em um ponto,sempre alí, a vender frutas e comercialmente hoje ele está bem e continua lá numa das esquinas deste bairro.Ele não foi para o caminho da violência nem se entregou aos vícios.Ele é para mim uma pessoa modêlo,e exemplo de gente que superou sua condição e cresceu e se estruturou à sua maneira e com criatividade nas ruas.As ruas portanto nesse sentido é meio de vida.Diariamente passo por ele.Conhecí o mesmo "moleque".É gratificante vê-lo como um vencedor.O seu marketing de vendas é chamar a todas as mulheres de "minha Rainha" e faz uma bela reverência a todas...sem distinção!Ele faz mil declarações para a auto estima das mulheres,com todo respeito é claro.Somos suas clientes todas rainhas.Isso é um must! Todas compramos dele.É uma simpatia! Mora no subúrbio e sustenta sua familia há mais de 20 anos alí...a última vez que o ví a fiscalização havia levado toda a sua mercadoria...ele ficou em grande prejuízo.Mas...não é melhor ele aqui trabalhando no seu negócio onde está sozinho do que em outro lugar,por exemplo a praticar a violência?

Claro! O trabalhador informal está alí porque optou pelo caminho do bem.É o trabalho com o suor do seu rosto.E que suor! porque no verão isso é uma loucura!!!...superando assim as facilidades de um caminho aparentemente atraente que possa ser o da violência.Sim,ficamos tristes por aqueles que não conseguiram continuar,ou que insistem em ficar,mas que possam com a sua alta dose de criatividade que todos observamos que tem,possam conseguir superar este momento e até dando a volta por cima e passando a ficar em alguma situação melhor.Afinal,como diz o velho ditado popular,há males que vem prá bem e quem ficou de fora,na verdade,terá uma outra oportundide também feliz.

Mas que farão falta ao nosso cotidiano,às nossas calçadas...isso fará.Pois é o "choque do amor" a reclamar do então famoso "choque de ordem"!Mas...vamos que vamos...

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Cristin
Enviado por Cristin em 17/09/2009
Código do texto: T1815523
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