A CORDA DA VIDA

Quando eu era criança - comentou o pastor evangélico Dionísio numa de suas palestras dominicais no IUFISC (Instituto Universal dos Fiéis e Incontestáveis Seguidores de Cristo) - conheci um senhor que morava nos arredores da zona urbana da mesma cidade onde nasci, dotado de uma sabedoria popular sem similar.

Aquele senhor era uma pessoa muito simples, tinha um semblante sereno, andar meio lento, um timbre de voz quase grave, porém muito firme, falava de forma bem pausada e adorava sobremaneira se comunicar com as pessoas. Em suas horas de conversas com as pessoas de seu convívio, ele sempre tinha algo novo para lhes ensinar e numa dessas conversas da qual fiz parte, me impressionou bastante a comparação que ele fez da vida humana com uma corda amarrada a uma árvore.

De acordo com o seu conhecimento de mundo a trajetória da vida de um homem poderia ser comparada ao percurso delimitado pelo início e fim de uma grande corda, amarrada ao tronco de uma árvore frondosa, cercada de plantas e arbustos por todos os lados.

Segundo aquele senhor, essa corda teria sempre uma constituição dinâmica e contínua, podendo ter uma duração efêmera ou perene, dependendo, portanto, da maneira que ela fosse amarrada no tronco da árvore, bem como do método empregado pelo seu usuário durante o seu manuseio.

Apesar de sua constituição ser dinâmica e contínua, ela não possuía um comprimento delimitado nem uma espessura única. Suas dimensões eram indefinidas e ela poderia ser curta, longa, fina, grossa, cheia de nós ou possuir pequenas ou grandes rupturas ao longo de suas extremidades e parte central.

Ressaltava que antes e durante o seu manuseio, algumas recomendações deveriam ser feitas aos seus reais usuários, que certamente proporcionariam um melhor aproveitamento e até uma maior durabilidade durante a sua utilização.

Ela não poderia ser esticada indiscriminadamente sob pena de abreviar o seu rompimento muito antes de atingir o seu marco final, nem mantida muito solta, meio flácida, o que faria com que ela permanecesse arrastando por muito tempo sobre o solo, posição que determinaria a abreviação de sua vida útil, nem permanecer por muito tempo acima dele, em face da necessidade de um contato físico com os vegetais, outras árvores, arbustos e plantas, reais fontes de energia.

Durante toda essa trajetória ela seria sustentada por hastes, em forma de mãos, que a acompanhariam desde a sua nascença até o seu final, visando a sua manutenção, direcionamento e a possibilidade de posicioná-la em perfeito equilíbrio com o meio ambiente e os fenômenos naturais a que ela estaria submetidos.

Desde o seu ponto de partida até o atingimento do seu ponto de chegada final ela poderia sofrer algumas alterações na sua constituição física. Umas indispensáveis à sua existência, outras menos importantes, contudo, todas ocorreriam sob o comando expresso e vigilante das hastes sustentadoras, fiéis condutoras de toda sua trajetória.

E ali, em sendo a corda da vida o produto de um processo dinâmico e contínuo, a sua trajetória nem sempre seria um mar de rosas. Haveria altos e baixos, vales e colinas, morros e montanhas, riachos e rios a serem transpostos, que poderiam causar lesões e formação de alguns nós e pequenas rupturas em pontos isolados de suas extremidades ou parte central e isso, decerto, determinariam os índices de consumo de energia a serem monitorados durante os caminhos por ela percorridos.

Na minha visão pueril de analisar a vida naquela oportunidade - frisou Dionísio - eu via a essa tal corda da vida como uma verdadeira engenhoca, criada pela imaginação fértil daquele homem humilde, que passava parte do seu tempo distraindo as pessoas de todas as faixas etárias com suas estórias e "causos" bem pitorescos...

O tempo passou e hoje, já crescido, parei para pensar a respeito da correlação feita por aquele homem e cheguei à conclusão de que a corda da vida existe realmente e cada um de nós a conduz de acordo com o seu livre arbítrio, determinando, voluntária e gradativamente o caminho a ser por nós percorrido, bem como a sua duração e a forma ideal de conduzi-la ao longo de todo o trajeto.

Essa trajetória, às vezes, é confundida com o que muitos de nós chamamos de destino. Se bem que aquilo que geralmente chamamos de destino, no entender de um líder religioso dos nossos dias, com o qual concordo plenamente, "é aquilo que colocamos nas mãos de Deus depois de termos feito tudo o que nos cabe".

Hoje eu também entendo que a corda da vida deverá estar sempre amarrada ao tronco de uma árvore frondosa, cercada de plantas e arbustos por todos os lados, que são as nossas bases familiares, bem como teleguiada por hastes em forma de mãos que são as mãos da proteção divina a nos conduzir durante a nossa passagem pelos altos e baixos, morros e colinas, vales e montanhas durante nossa passagem na face da Terra.

Os nós ou rupturas que porventura surgirem no seu decorrer, o serão reparados de acordo com o diálogo que mantivermos com Deus através de Seu filho Jesus Cristo no nosso cotidiano.

Sigamos, pois, agarrados às hastes que dão vida, amor, direcionamento e real sustentação á nossa corda imaginária da vida, e com certeza, encontraremos força, motivação, coragem e determinação para a transposição dos obstáculos surgidos ao longo de sua trajetória.

O tempo de duração de cada corda da vida não está sob o nosso controle, é evidente, mas ele tenderá a ser mais longo e sem a incidência de nós e rupturas se atentarmos para o fato de que paralelamente á nossa corda outras cordas estarão circulando e que nenhuma delas deverá impedir a reciprocidade de sua circulação.

É preciso que entendamos que a mão condutora de uma corda é a mesma para todas as outras e aquela mão jamais se cansará e nem fará distinção na sua forma de atuação. A nós caberá receber a corda da vida como uma grande dádiva da natureza e agradecer a Deus por todos os momentos que nos forem proporcionados, independentemente da forma como eles se lhes apresentarem.

Todos nós precisamos saber viver a corda da vida - afirmou Dionísio com um ar de felicidade e de plena missão cumprida. Para uns, essa corda percorre caminhos tortuosos e íngremes, mas para outros os caminhos percorridos são mais retilíneos e planos - reafirmou.

Procuremos todos percorrer o trajeto da corda da vida sem nos colocarmos numa situação de uma perfeita corda bamba. Todavia, se numa dessas investidas, por alguma razão maior, estivermos presos a uma situação embaraçosa que nos obrigue a esticá-la desordenadamente, saibamos nos preparar para encararmos um eventual tombo no caso de um novo rompimento dela.

O mais importante é que não nos acostumemos a sempre cair; mas se algum dia, numa eventualidade da nossa vida, isso vier a acontecer, recolhamos os pedaços quebrados e reconstituamos uma nova corda, desta feita composta por novos nós bem mais firmes e sigamos confiantes na certeza que uma mão sustentadora estará sempre a nos guiar e essa mão a que me refiro é a mão de Deus, a própria proteção divina - finalizou.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 24/06/2006
Reeditado em 14/02/2014
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