Um enxoval para o Menino Jesus

Quem vive em casa ou nas ruas

Chagas alheias curando,

Nem se apercebe que as suas

Foram sozinhas fechando.

(Lilinha Fernandes)

Maria Aparecida Silva, como de costume, levantou-se cedinho, deixou preparado o café da manhã, para o marido e os quatro filhos. E seguiu, com o pensamento em direção a Deus, rumo à Escola Estadual Padre Matias Lobato.

Já completara vinte e um anos de magistério, lecionando Geografia para as turmas de quinta à oitava série. Deus, a família e o trabalho. E os amigos, claro. Aí está uma síntese da vida de Maria Aparecida. E, no momento, passava por uma fase difícil pela perda do irmão, que morrera tragicamente numa emboscada. Embora agasalhada, sentia muito frio, porque a saudade do irmão era assim, um frio incrustado na alma.

Descia a Rua Minas Gerais, completamente absorta em suas orações. Que seria de nós se não contássemos com a ajuda do Pai nestas horas tão dolorosas? Ela insistentemente pedia ao Espírito Santo uma luz em seu caminho. Pedia à Virgem Maria que a ajudasse a tomar uma atitude que lhe desse conforto e paz de espírito.

Enquanto rezava, ao meio do quarteirão, dela se aproximou uma senhora que trazia no colo um bebê quase totalmente desprotegido contra o frio. Maria Aparecida não pensou duas vezes. Tirou o agasalho e o deu à pobre senhora para que enrolasse o pequenino. Depois de poucas passadas, teve um ímpeto de olhar para trás, talvez até para ver materializado o bem que praticara. Tamanho foi o seu susto, porque não viu mais ninguém. Como aquela senhora desaparecera, assim tão rápido?

Então, no mesmo instante, uma idéia iluminada chegou-lhe à mente. O Menino Jesus, na pessoa de um recém-nascido, iria ganhar um lindo enxoval confeccionado por ela própria. E mãos à obra. Preencheu os momentos disponíveis com a tarefa. Peça a peça, todas feitas com amor. O enxoval ficou pronto.

No Patronato Bom Pastor, que acolhia as mães solteiras, abandonadas pela família, nasceu um menino no Natal, à meia-noite, e este ganhou aquelas roupinhas confeccionadas amorosamente. Daí em diante, Maria Aparecida assumiu esta missão de fazer enxovalzinho para recém-nascidos, filhos de mães carentes. E fica tudo um primor! Assim, Jesus plantou a paz no coração de Maria, xará e protegida de sua mãe, a “Santa Maria, Mãe de Deus”.

Um exemplo, pois nem todo cristão vive a alteridade efetivamente.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 25/06/2006
Reeditado em 18/08/2011
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