Blog do Noblat - Um domingo no Morumbi

Publicado por Marcondes Brito no Blog do Noblat em 31/08/09

Gastei R$ 40,00 para ver São Paulo 0x0 Palmeiras, o principal jogo da 22a rodada do Campeonato Brasileiro e sai do Morumbi com a sensação de ter jogado dinheiro fora.

Não apenas pela sofrivel qualidade do espetáculo, mas, sobretudo, pela falta de respeito aos 41 mil torcedores que pagaram ingressos - ou pelo menos para a grande maioria deles.

Cheguei uma hora antes de o jogo começar, mas só tive acesso à arquibancada azul com 20 minutos de jogo. Lá dentro, nem pensar em procurar o meu lugar. Correria o risco de ser agredido.

Lembrei imediatamente de uma experiência que vivi em Lisboa, alguns anos atras. Cheguei atrasado para ver o clássico Benfica x Porto, no Estádio da Luz, mas o meu assento estava guardado pra mim.

Só então pude entender o sorriso maroto da vendedora que me atendeu na bilheteria do estádio, um dia antes do jogo, quando perguntei sobre a localização do meu bilhete.

Dentro e fora do Morumbi, o grito intimidador de torcidas organizadas dava a sensação de insegurança e pavor. Os pais que levam crianças para jogos de futebol são carajosos. São quase irresponsáveis.

É triste constatar que, no país onde se pratica o melhor futebol do mundo, ninguém leva nada a sério. Não por acaso, um estudo feito pela Casual Editores demonstra que o futebol brasileiro está cada dia mais próximo da falência.

A dívida dos 21 clubes mais ricos do País cresceu 26,2% em 2008. Quatro vezes o valor da inflação no mesmo período.

Palmeiras, Internacional e São Paulo - só para citar três integrantes do G4 e favoritos ao título - têm rombos financeiros em milhões de reais na casa dos três dígitos. São dívidas impagáveis, naturalmente.

É uma demonstração inequívoca de que o amadorismo prevalece em gestões que gastam o que não tem, e não conseguem criar alternativas para cobrir os rombos gerados pela própria incompetência administrativa.

O governo Lula bem que tentou ajudar com a Timemania, mas a loteria criada para salvar os clubes é um imenso fracasso. Estreante no campeonato das lotéricas, a Timemania já luta contra o rebaixamento. Pode ser extinta em 2010, por absoluta falta de apostadores.

A situação pre-falimentar dos clubes é diametralmente oposta à exuberância financeira da CBF, a dona da bola aqui no Brasil. Em 2001, a entidade decidiu vender a sua sede própria, no Centro do Rio, para pagar um aluguel de R$ 150 mil em um andar de edifício na Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade.

Recentemente, outra demonstração de vitalidade financeira: a CBF comprou um jatinho Citation CJ4 da empresa americana Cessna, por US$ 10 milhões.

Alguém já fez as contas e constatou que esse dinheiro daria para bancar as Séries C e D do Brasileirão e a Copa do Brasil Feminina por dois anos.

Enquanto isso, estamos nos preparando para sediar a Copa 2014.

Dentro de campo, sempre seremos candidatos ao título. Fora dele, o risco que corremos é de dar um grande vexame internacional.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/08/31/um-domingo-no-morumbi-218764.asp

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 22/09/2009
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