SILÊNCIO EM SÃO PAULO

Recentemente estive em São Paulo por uma semana. O quarto do hotel me bastava com a cama, banheiro, telefone e internet. Mas encontrei algo que não estava listado no catálogo das vantagens do quarto como ar-condicionado, frigobar etc. Apesar de anexo a uma movimentada avenida e um grande shopping center, encontrei naquele quarto um silêncio quase absoluto causando-me a impressão de ter sido acometido de surdez.

Imediatamente alastrou-se em mim uma sensação ambígua, ora tendo a impressão que eu não existia e logo em seguida parecia-me que não havia mais nada alem de mim. Para testar meus ouvidos, abri a janela que dava para as avenidas. A salada de sons que entrou deu-me a impressão que um só motor havia do lado de fora gerando um ruído hostil e constante. Fechei a janela satisfeito e aliviado, afinal podia ouvir - e decidi ouvir o silêncio. Agora ele não me perturbava, mas estranhamente o desejava e desfrutava de seu abraço que envolvia até meus pensamentos.

Jamais imaginei que o silêncio pudesse ser uma companhia tão suave, discreta e gentil. Mais que isso, descobri que estou vivendo um período que me faz muito bem tê-lo por perto como um amigo fiel e amável. Não o silêncio da solidão ou de uma espera angustiante de uma resposta que não chega, muito menos do descaso de muitos que sem palavras dão como cruel resposta nenhum som. Mas falo da mais simples quietude de um ambiente sem os sons de eletro-eletrônicos, escapamentos e vozes.

O ambiente daquele moderno quarto vestiu-se com ares de um mosteiro. Com uma quietude que ao invés de trazer melancolia ou tédio, transformou meus momentos após retornar dos compromissos em mergulhos num lago de paz que parecia não ter fundo. Estes momentos, com a suavidade de águas de um remanso, ajudaram-me a provar o conselho divino “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”, levando-me a ver as ansiedades da vida como bandos de pássaros esvaindo-se no horizonte.