QUANDO MEUS QUINZE ANOS CHEGAR

Não é fácil completar quinze anos. Os nossos sonhos nem estão todos formados e já temos que tomar decisões importantes, sem contar a quantidade de coisa que existe para ver, que vai além das capas das revistas que a gente olha admirado, imaginando um dia vai chegar lá no alto e gritar: _Parem o mundo que eu cheguei.

E agora como faço pra descer e começar tudo de novo?

A gente ainda não tem idade pra dormir fora de casa, pra pegar a chave do carro, pra viajar sozinho, entretanto tem toda a certeza do mundo que só o que nos falta é a idade, no mais tudo no mundo parece possível. Ainda briga com o irmão mais novo por ter usado o tênis sem pedir permissão, por não ter levado o cachorro pra passear e por algum outro mico que nos fez passar diante da turma, mas fazer o quê? Um dia ele vai crescer e vai entender o que eu estou dizendo. O ruim é que quando isso chegar eu já estarei bem mais velho que ele, tipo gente grande que começa a fazer planos para o futuro, previdência privada, seguro de vida, casa de campo, família, futebol, ampliar a coleção de carrinhos de corrida, tomar sorvete a qualquer hora e brincar de play station de madrugada. Ups! Olha, eu aqui traindo a minha maturidade com essas coisas de adolescente. Melhor escrever sem tanta empolgação para não parecer que sinto falta.

Não é fácil olhar e desejar as coisas por fora da vitrine, imaginando que quando tiver 21 anos, o mundo estará bem mais diferente do que o mundo que vejo agora e que qualquer coisa que meu dedo apontar seja ‘auto adquirível’. Dá uma vontade imensa de querer morar sozinho, para poder dar festa todo o final de semana em casa, não se preocupar com a toalha molhando a colcha da cama e nem em colocar o lixo pra fora. Essas coisas que a gente cresce ouvindo a nossa mãe dizer e que naquele momento não faz o menor sentido. Bom mesmo seria passar dos quinze com direitos iguais aos adultos para entrar no cinema para maiores de dezoito, para tirar carteira de motorista, para viajar para bem longe, fazer uma daquelas viagens pelo mediterrâneo, Turquia e visitar todos aqueles lugares que o Indiana Jones visitou na sessão da tarde e que eu ficava olhando admirado. Até já comprei um chapéu igualzinho e fico todo empolgado na frente do espelho com meu canivete do Popeye imaginando ter descoberto uma mina de ouro inteirinha só pra mim. E o melhor disso tudo, sem ter que pagar ICMS, PIS, COFINS e imposto algum por isso. Gente da minha idade não tem idade para ficar pagando imposto. Isso é coisa de adulto que trabalha apenas para fazer no final de semana as coisas que eu posso fazer todo o dia.

Uma coisa já posso dar como certa: Todo final de semana eu vou estar na praia, olhando aquele marzão enorme, minha prancha de surfista do lado, o meu cachorro Xaveco rolando na areia, olhando o sol se esconder lá longe. Passear pela orla, sentindo o vento bater no meu cabelo e acreditar que esse mundo de beleza e de oportunidade estará disponível para mim em algum momento na velhice quando ela não tardar a chegar. Nada e ninguém me fará desejar o contrário e quando chegar à hora serei um adulto bem mais feliz do que imagino ser agora. A única pressa que terei é de ficar desejando que o domingo chegue depressa só para eu me lembrar que em plena segunda-feira poderá ser domingo também, igualmente ter chegado aos trinta, imaginando ter feito ainda quinze.

Quando meus quinze anos chegar, eu prometo vivê-lo por trinta.

Joel Thrinidad
Enviado por Joel Thrinidad em 23/09/2009
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1826362
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