Por um triz

Wilson Correia*

Eu estava em Salvador, a trabalho, cansado e exausto e parei num daqueles deliciosos pontos de venda de água de coco. Sentei na calçadinha enquanto o homem preparava o frescor daquele líquido divino a me oferecer e, ‘pari passu’, foi relatando a história, como um “plus” à mercadoria.

Um dia o mineirinho daqui do lado recebeu convidados e mandou o filho ir ao mercadinho comprar algumas coisas para o almoço.

O garoto saiu em desabalada carreira, todos o viram sumir na primeira esquina em questão de uma piscada de olhos. Contudo, o guri começou a demorar e o mineirinho, que não podia deixar as visitas a ver navios, foi fazendo sala conforme a criatividade, até que o seu comprador regressasse.

Passadas duas horas, eis que o garoto se joga dentro da sala e em meio aos presentes. Havia demorado porque achou de brincar e se divertir num campinho do bairro. Mas o pai não quis saber:

– Quase perco minhas visitas...

Fisgado pelo olhar furiosíssimo do pai, sujeitinho se justificou:

– É que você me disse para ir depressa, mas não disse como eu devia voltar...

O pai estava mesmo para ser vencido, pois soltou-lhe um relho para pegar onde pegasse, do qual o menino se safou como uma a mosca da mão que quer apanhá-la.

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009.