Johanna Maria

Johanna Maria

Acabamos de receber o convite para o vigésimo aniversário de casamento do Pepe. Irromperam imagens do passado...

Imagens reveladas por momentos que costumam nos marcar profundamente, apesar de terem ocorridas, quando a preocupação era com o crescer dos pelos.

Certa vez ao entrar no quarto de Pepe, com toda a intimidade e liberdade que gozam as crianças, escutei sua avó, imigrante italiana, com a sabedoria dos que não freqüentaram a escola dizer: “os seres humanos são espalhados tal qual dois pedaços de uma laranja cortada às pressas e sem qualquer preocupação de simetria. Depois, abraçando-o com ternura de avó, escancarou um sorriso e concluiu: “teu avô encontrou exatamente o outro pedaço para completar a laranja”.

Apesar dos avôs do Pepe terem diferenças, presenciei suas bodas de ouro, marcadas por uma convivência de muito companheirismo, carinho e amor. As palavras daquela sábia mulher ganharam mais força...

Para todo homem, existe aquela mulher que, sem muito esforço, consegue fazê-lo desistir de tentar conquistar todas as mulheres do mundo, mas ame todas nela, num grande amor. É a mulher para a qual o homem consegue objetivar o seu amor por todas as mulheres do mundo.

Essa era uma certeza, que Pepe herdara da avó.

Quando abri o envelope do convite para o aniversário de casamento encontrei a seguinte cartinha:

Caríssimo amigo,

Lembras das palavras de minha avó sobre os pares como pedaços de laranjas cortadas sem simetria?

Mentalizei que ia acontecer o mesmo comigo. Apesar do encontro entre minha mulher e eu ter muito pouca probabilidade de acontecer, estava escrito nas estrelas...

Em 1965, numa manhã de garoa em São Bernardo do Campo, São Paulo, no acesso para as alas da Volkswagen, quando nos dirigíamos aos nossos locais de trabalho, meu corpo e minha intuição sinalizaram: “é esse monumento de mulher aí do teu lado. Não te assustes, é que tu és somente um pedacinho da laranja”...

De lá para cá, muito companheirismo, compreensão atenção, carinho e amor.

Os filhos, maior realização de nossas vidas, fortaleceram nosso convívio, e mais que isto, nos deu forte convicção da imortalidade.

Estamos aguardando Johanna Maria e tu para alegrar nossa alegria.

Abraços /Pepe.

Percebi que aquela história era a minha e de muitos outros. E as rimas surgiram, como para celebrar os encontros das partes que completam uma laranja...

“Tributo à Johanna”, como o próprio título expressa, é a exaltação de todos nós, homens, àquela mulher que vem completar aquela laranja cortada ás pressas... É a exaltação àquela mulher, cuja imagem estava pintada nas estrelas e, como anjos, desce para tornar nossas vidas mais felizes.

Johanna Maria, que alegria! És responsável pela minha prosa e poesia.

Tributo à Johanna

Johanna Maria,

que alegria

ser responsável

pela tua poesia.

Johanna Maria,

companheira de corrida,

da mesa, da cama,

da luta da vida,

meus filhos te chamam de mãe.

Johanna Maria,

teu corpo foi flor,

eu fui o vento

e dançamos o amor.

Johanna Maria

desabrochou em dois filhos

e nos imortalizou.

Johanna Maria,

um Chico, em mim,

ainda irá renascer,

p’ra com música e com rima

meu amor te dizer.

Johanna Maria,

pouco importa

se um dia a morte nos separar,

pois será ela mesmo

que, num outro, nos unirá.

Aí, bem juntinhos,

voando como passarinhos

gozaremos a aurora de um outro lugar.

Johanna Maria,

que alegria,

és responsável

pela minha poesia.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 27/09/2009
Código do texto: T1835081
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