O cidadão Azevedo.

Outro dia, numa breve conversa com uma amiga, cujo assunto era Jacareí dos nossos tempos de criança, surgiu o nome do Azevedo, como era conhecido o amigo Benedito Alves de Azevedo, cidadão jacareiense que viveu seus últimos dias no asilo Amor e Caridade. Ao lembrarmos do velho amigo, voltamos ao passado nas recordações de uma Jacareí bucólica e acolhedora. De repente vimo-nos diante do Armazém do Azevedo, também conhecido por Armazém do Ponto, pois, naquela época era ali que os sitiantes, fazendeiros e roceiros daquela região e de Santa Branca, faziam ponto de parada quando aqui chegavam, cuja localização era na Rua Dr. Carlos de Campos, esquina da Rua Moisés Ruston, que já foi a famosa Rua do Caminho do Gado. Para os mais jovens – de idade ou de cidade – o armazém situava-se onde hoje está a Padaria Newada.

Minha amiga lembrou-se que seu pai, Sr. Aristides, possuía na pequena praça em frente, hoje Praça Antonio Piovesan, perto da residência do Sr. Lima, algumas casas e onde também residia. Foi neste local que ela nasceu e viveu parte de sua infância.

Já minha ligação com o armazém é mais recente. Nos idos de 1978, vindo de São Paulo, comecei trabalhar em Jacareí. Fui me familiarizando, me identificando com a cidade e fui ficando. Me tornando assim, um jacareiense por adoção, o que muito me orgulho.

Conversa vai, conversa vem, fomos relembrando tantas coisas daqueles tempos. Nossas memórias foram liberando os fatos e a nostalgia falou mais alto, tomou conta de nós.

Coisas tais como: O querosene das lamparinas, que ficava num grande tambor de 200 litros. Assim era também com o óleo comestível, de amendoim, pois soja é mais recente. O óleo também ficava num grande tambor, de onde era extraído para litros individuais, que todos traziam de casa e através de uma bomba de manivela, enchia-os no ato. E o leite de vaca, que vinha dentro de litros de vidro transparentes, acomodados em engradados de ferro ? E a tradicional placa “vasilhame só com depósito”?

O Armazém do Azevedo vendia de tudo; secos e molhados, tecidos, remédios, produtos veterinários, agropecuários, fumo de rolo, cachaça “Morrão Dunga”, tubaína, Maçãzinha Campeão, ferramentas, etc. O dinheiro era pouco mas, comprava-se tudo na confiança e anotava-se na velha e saudosa caderneta, que no fim do mês era religiosamente quitada. Vieram as lembranças dos doces que nos enchiam de alegria e cáries. O caminhão do J. Ribeiro, a tradicional vitrine de madeira envernizada e o baleiro giratório.

Tinha o homem do biju, com seu inconfundível som: téq,téq – téq, téq. O amolador de facas e tesouras com o seu suave apito... E o velho do velho realejo ? E o padeiro, que vinha com uma carroça fechada ( parecia um furgãozinho) e trazia o pão quentinho.

O Armazém do Azevedo era o ponto de encontro de cavaleiros, carroceiros e charreteiros, que para ali convergiam para suas compras e negócios.

Lembram-se da plaquinha : “ Fiado só amanhã “ ? Pois é, era desta época e perdura até os dias de hoje. E o fiado ia ficando para amanhã, que ficava para amanhã...

Quanta saudade ! Parece que foi ontem.

Valeu Azevedo ! Dona Zezé ! Valeu nossa viagem.

Descanse em paz, velho companheiro !