Dona Eugénia costurava para fora. Todo o santo dia laborava com preceito e dedicação relembrando entre pontos e pespontos o seu saudoso Adérito. Todas as noites antes de adormecer enchia um cálice de bagaceira branca. Brindava em silêncio e para garantir que os pés se lhe mantinham quentes debaixo das mantas solitárias bebia ainda mais outro.
Pureza da Cunha e Sá passava os dias em reuniões e encontros informais estratégicos para conseguir apoios financeiros para as suas obras de caridade. Ajudar os necessitados era uma missão de vida. Para além disso nada mais lhe restava a não ser um marido ausente. Antes de dormir transportava carinhosamente uma garrafa de Drambuie para a sua suite. Não se lembrava nunca de brindar ao primeiro cálice e no fim da garrafa já todas as memórias tinham adormecido. Os sonhos tornavam-se doces.
Jesualdo, camionista e solitário empedernido gastava a sua vida na estrada. Nos isolados dias de folga fechava-se na sua modesta vivenda na aldeia e corria todos os estores. Ligava a Sport TV e mergulhava nos jogos de futebol da liga estrangeira. Por cada golo marcado emborcava uma garrafa de cerveja Sagres. De penalty.
Doutor Hélder, ginecologista de serviço no Hospital Amadora-Sintra tinha errado na escolha da especialização. Em má hora o descobrira pois mudar seria impossível. A visão dos genitais femininos enfastiava-o. Pior que isso fizera-o perder o interesse pelo sexo oposto. Após o divórcio voltou a casar. Com a Vodka. Felizmente que por ser médico podia tomar todos os medicamentos que lhe cortavam a ressaca da noite e voltar a mais um doloroso dia de trabalho.
 
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 28/09/2009
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