"IDENTIDADES ALIENÍGENAS" Crônica de: Flávio Cavalcante

IDENTIDADES ALIENÍGENAS

Crônica de:

Flávio Cavalcante

É traumatizante para muitas pessoas assumir o próprio nome que lhes é dado quando criança. Alguns realmente são tão terríveis e os próprios donos brigam na justiça para trocar, se deparando com uma burocracia montanhosa e sem lógica.

Existem pessoas que passaram a vida inteira tentando resolver este problema aparentemente banal, mas causador de um dano moral muitas vezes irreparável na vida do homem. Se não houvesse este problema o cidadão saía de casa para resolver outro tipo de assunto; tipo, pagar uma conta no banco, se preocupar de beber umas cervejinhas no fim semana com os amigos e etc.

Resolvi fazer uma pesquisa sobre este assunto depois que conheci uma garota que atendia pelo nome de BUCÉFULA. Estudou comigo há muito tempo e ela sempre carregou um trauma desesperador deste nome, á ponto de subir pelas escadas do prédio para não ser vista pela sua vizinhança e não ser o motivo da chacota do dia; coisa comum na vida da garota. Tentou várias vezes trocar de nome na justiça, mas não conseguiu por causa da burocracia e das leis sem sentido deste país vergonhoso.

As algazarras em cima da pobrezinha era um martírio quando o professor fazia chamada matinal dentro da sala de aula. Vi muitas vezes quando ela caia em prantos por não agüentar tanta humilhação vinda dos colegas de classe.

Bucéfula tinha mais duas irmãs de nome também de identidade alienígena. FEDEMELDA e SUVACUNA. Ela acusava os pais de débeis mentais e saiu de casa revoltada, carregando consigo um fardo muito pesado nas costas; acredito, que até os dias de hoje.

Na pesquisa descobri nomes de ordem alarmantes tipo. MARIA AVENIDA VIEIRA SOLTO, ANATOLE RITCHARMISSOM, (Este tomou um litro de querosene e o médico teve dificuldade de pronunciar o nome do garoto na hora de passar a receita médica), UM, DOIS, TRÊS DE OLIVEIRA QUATRO e o que mais me deixou perplexo, foi quando li um artigo de um cidadão que adorava o cargo que ele ocupava no trabalho de Office-boy. Chegou ao cúmulo do disparate de registrar as sua duas únicas filhas pelo nome de MADALENA XEROX e HELENA AUTENTICADA. Diz o artigo, que ambas tem problemas sérios de nervos e vivem movidas por medicamentos e o pai não entende o motivo, já que as tratam com muito amor e carinho.

As identidades alienígenas não são coisas da atualidade. Desde que o Brasil era império, já carrega esses nomes estranhos.

Por exemplo, o nome da princesa Leopoldina era “DONA MARIA LEOPOLDINA JOSEFA CAROLINA DE HABISBURGO LORENA”. O nome de D. Pedro primeiro era: “D. PEDRO DE ALCÂNTARA, FRANCISO ANTONIO, JOÃO CARLOS XAVIER DE PAULA MIGUEL RAFAEL, JOAQUIM JOSÉ GONZAGA PASCOAL CIPRIANO E SERAFIM DE BRAGANÇA E BURBON. Sua identidade é imensa e ainda hoje existe em arquivos de museu. Sua mãe era conhecida por Maria Louca.

É lamentável que isto venha acontecer e ainda tenha pessoas tão inábeis com mentes tão vazias á ponto de deixar estampado na sua cria um trauma que carregará por toda a sua existência.

As leis deste país deveriam ser mais rígidas e principalmente ágeis nesse sentido pelo fato de que, basta um nome desses para traumatizar o cidadão de forma que ele se envergonhe de citar em qualquer ambiente o próprio nome.

Os cartórios não deveriam aceitar estas verdadeiras aberrações. O congresso nacional deveria lançar lei em proll dessas pessoas que não são poucas, para que os processos de mudança de nome não sejam tão burocráticos e o cidadão possa ter o livre acesso á sociedade como qualquer outro cidadão que paga seus impostos honestamente.

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Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 29/09/2009
Código do texto: T1838320
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