MENDIGO

M E N D I G O

Ao passar, por uma rodovia, vi um homem maltrapilho a vagar, suas roupas estavam rotas e sujas, pés descalços, cabelos desgrenhados, barbas compridas e em desalinho.

Quem era este homem que a tudo deixou, abdicou a um futuro, sem esperanças! Porquê deixou sua família, seus amigos, seu trabalho; despiu-se de sua dignidade; enclausurou seus sonhos e projetos de vida? Que teria acontecido, para tamanha desilusão?

Caminha vida afora, contando com a bondade, complacência e piedade dos outros seres humanos! Que angústia lhe vai na alma; quantas mágoas lhe machucaram o coração e quem o magoou?

Certamente, o mundo que o cerca e que tem o nome de sociedade é a culpada, por tão grande infortúnio! Quais foram as condições para a sua vinda? Seus pais estavam preparados para recebê-lo? Como foi a sua gestação e nascimento? Quais as oportunidades que teve, na sua infância e juventude? Freqüentou escola e pode permanecer nela?

Construiu castelos, como qualquer de seus irmãos; castelos estes que estavam personificados em estudo, trabalho, esposa e filhos! Seu estudo foi de baixíssima qualidade; trabalho foi impossível, pois lhe faltou a qualificação necessária; esposa e filhos se constituíram em utopia! Como constituir família se lhe foram negadas as condições humanas e econômicas, para que este desejo fosse concretizado?

Diante das dificuldades que a sociedade hipócrita e farisaica lhe impôs, ele sucumbiu; sepultou sonhos; abandonou-se à própria sorte; se fez paria e caminha, sem uma réstia de esperança; faltaram-lhe um lar, compreensão e razões para cultivar sonhos, nome e fama; ele é, simplesmente, mais um mendigo, fabricado pelo egoísmo humano e selvagem daqueles que se dizem ser “imagem e semelhança “ de Deus e que, sem nenhum remorso rezam: “Pai nosso”.

JOSÉ BENEDETTI NETTO

jose benedetti netto
Enviado por jose benedetti netto em 29/09/2009
Código do texto: T1838683