As delícias de um amor proibido 

     Alguns poetas, anjos personificados, afirmam: “Amores vêm e vão...”; “É um contentamento descontente”; “Que não seja imortal, posto que é chama”. 
     Ainda assim, muitos procuram a eternidade de um amor autêntico, de um amor que drible as intempéries das relações desgastantes e mornas. Todos investem tempo, gastam saliva, estudam perfis, freqüentam analistas, como se houvesse fórmulas prontas ou Pedra Filosofal que transformasse ilusão passional em paz emocional. 
     Amor inesquecível, imorredouro, é o que não pode durar mais que os instantes de intensa loucura e entrega. Esses enlaces perfeitos morrem na hipocrisia social que se reveste de puritanismo, sob as vestes fantásticas da falsa moral, sem se permitir compreender: o negro e a loira – “Que absurdo!” ou “Também...é loura, né!” –; a mocinha – “Dezoito anos, menina!” – e o senhor na flor da maturidade; o bom rapaz – “É um pena que é espírita...” –; e a jovem e promissora cantora Gospel; o padre – “O padre... Safado!” – e a fiel por quem se apaixonou à excomunhão... 
     Amores são desafios constantes, pois requerem compreensão, renúncia, amizade, respeito. Por isso, os relacionamentos marcados pela tragédia são únicos: criam-se da loucura; morrem na incompreensão; eternizam-se no silêncio. Sugerem ideal; permitem sonhos; realizam sensações. São mágicos, não envelhecem, nem duram o tempo necessário a estagnar-se; jamais se esgotam nos diálogos acalorados por um pedaço menor de bolo, um copo de refrigerante ou uma coxa de galinha do almoço dominical. 
     Amores efêmeros são imortais, posto que não dividem a mesquinhez; não cobram o amanhã, antes, são vividos por inteiro, já que não admitem, embora entendam, a impossibilidade natural de subsistir. 
     Até o dia em todos os seres humanos entenderem que não pode haver limites para o amor, não existirá felicidade mais doce do que provar as delícias de um amor proibido.