Blog do Noblat - Jogos Olímpicos: há algo de pobre no Reino da Dinamarca

Publicado por Marcondes Brito no Blog do Noblar, em 01/10/09

"O voto de Joseph Blatter está garantido".

A frase é do governador do Rio, Sérgio Cabral, e está nas manchetes esportivas do dia. Joseph Blatter é presidente da Fifa e um dos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), que decide sexta-feira a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Como político, Cabral deveria saber que nenhum voto é garantido. Como brasileiro, deveria lembrar que já acumulamos fracassos e frustrações nessa corrida olímpica.

É verdade que o Brasil nunca esteve tão perto de trazer os Jogos. Pela primeira vez uma candidatura brasileira chega à final com chances de ganhar.

Nas tentativas anteriores, além de jogar dinheiro fora, protagonizamos vexames históricos, como no projeto Brasília 2000, que apresentou um Caderno de Encargos com rasuras feitas à mão.

Depois foi a vez do Rio de Janeiro entrar na disputa. Concorreu para os Jogos de 2004, mas a cidade foi superada por Buenos Aires entre os finalistas.

Os dois fracassos baixaram um pouco o nosso ímpeto, mas voltamos à carga para os Jogos de 2012, primeiro numa disputa interna entre São Paulo e Rio. O Rio desta vez foi até a final, mas não tinha chances contra Londres.

Agora, desembarcamos otimistas na Dinamarca para concorrer com Chicago, Tóquio e Madri. A abertura da 121a Sessão do COI será às 3h30 (horário de Brasília). A apresentação brasileira será entre 7h05 e 8h15 da manhã. O resultado será divulgado pontualmente às 13h30.

No curto espaço de 70 minutos, o sonho do presidente Lula, de Pelé e de Paulo Coelho, nossos principais "garotos propaganda" presentes em Copenhague, poderá virar realidade. Ou não.

Ninguém parece preocupado com perdas materiais. Calcula-se que o Brasil já gastou R$ 180 milhões nas cinco candidaturas, R$ 130 milhões dos quais só nessa aventura de 2016.

Isso não é nada comparado ao que será preciso gastar, se a gente der a sorte (?) de ganhar. Basta ver o que aconteceu nos Jogos Pan-Americanos 2007 que consumiram R$ 3,8 bilhões, quase cinco vezes mais do que o orçamento original.

O fato de o continente Sul-Americano nunca ter sediado essa competição é o apelo emocional do Brasil, contra candidatos fortes e endinheirados. Mas esse sentimentalismo não dá voto a ninguém. Sabia disso, governador Sérgio Cabral?

Atenas - onde tudo começou em 1896 - acreditava ter todos os votos garantidos para comemorar o centenário dos Jogos Olímpicos, em 1996. Foi surpreendida por Atlanta, que usou apenas a força do presidente dos EUA como argumento.

Por isso, todos tremeram quando Barack Obama confirmou presença na cerimônia de sexta-feira.

Assim como sugeriu o genial William Shakespeare na peça do Principe Hamlet, ninguém duvida que pode haver algo de podre no Reino da Dinamarca.

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 01/10/2009
Reeditado em 10/10/2009
Código do texto: T1841272