O homenzinho verde

Chegou àquela casa aos três anos de idade, aos cinco já a explorava por inteira, cômodo por cômodo, sem exceção, não tinha um canto que já não o conhecesse, o que deixava sua mãe p... da vida, mas havia um canto em especial que ele adorava se esconder, principalmente quando aprontava e precisava fugir de uma bela surra, ás vezes ficava por horas, inerte, respirando o mais silencioso possível apenas para não ser surpreendido com uma figura muito brava e com um belo cinto na mão. O problema é que conforme o tempo passava, ele necessitava de um canto um pouco maior para o seu “exílio”, fazendo-o quebrar a cabeça para encontrá-lo, ainda mais quando, sem escapatória, acabava cedendo a uma bela surra de chinelo.

E foi numa de suas novas “expedições” pela casa que descobriu um verdadeiro tesouro, um local até então escondido de todos e que nem ele imaginava existir, pronto tinha em mãos o seu novo esconderijo, muito melhor do que o anterior, agora só faltava testá-lo. Como? Precisava aprontar alguma, nem que fosse uma bobeirinha, apenas para poder colocar em prática o seu plano mirabolante. Pensou, pensou... e nada lhe vinha na imaginação, nervoso com a situação, sem perceber saiu batendo a porta da casa (sem querer conseguia arrumar um pretexto para uma surra), ainda distraído com centenas de planos que depois de alguns “cálculos” chegava a conclusão que não funcionaria, adentrou novamente na casa, seguindo em direção a cozinha, sua mãe que já o aguardava com um chinelo, esperou o melhor momento para pegá-lo, assim que ele percebeu o que estava para se suceder, não teve um pingo de dúvida, imediatamente correu para a sua mais nova “Batcaverna”, se espremeu todo e... como mágica sumia diante de sua mãe, que sem saber o que havia acontecido procurava-o desesperadamente para lhe dar umas boas chineladas.

Passados alguns minutos abrigado em seu esconderijo, começou a sentir a presença de outra pessoa, e no meio da escuridão apareceu um homenzinho verde, com olhos grandes, braços e pernas cumpridas e bem magrinho, ao seu lado, que educadamente cumprimentou-o:

- Olá!!! Posso ser o seu amiguinho?

- ...?!?

- Por acaso você não entendeu? Você deixa ser o seu novo amiguinho?

-...?!?

- Por que você não quer ser o meu amiguinho?

Pálido, mudo, molhado e com suas pernas “magricelas”, parecendo dois palitos em convulsão, não teve a menor dúvida, saiu gritando desesperadamente do seu refúgio, fazendo com que sua mãe o encontrasse.

- Ah muleque, agora você não escapa!

- Mãe, mãe, promete que não vai me bater?

- Por que filho?

- Promete ou não?

- Depende, se me explicar a razão, posso até relevar o que você fez.

- Você não vai acreditar, mas tem um homenzinho verde aqui dentro.

E a levou até o que seria o seu super esconderijo, o mais perfeito de todos.

- “Tá” vendo ele aí mãe?

- Ele quem?

- O homenzinho verde, mãe!!

- Não tem nada aqui meu filho,

- Como não? Ele “tá” aí, tenho certeza

Sua mãe olhou novamente e não viu nada, a não ser muita sujeira e uns móveis velhos.

- Não tem nada aqui meu filho, você deve ter sonhado!

- Por acaso você é cega?

Paft!!! Um único tapa, o deixou com os olhos lagrimejados.

- Isso é para pensar duas vezes antes de desrespeitar a sua mãe.

Chorando muito e resmungando, saiu sem saber como aquele homenzinho verde tinha aparecido ali e depois desaparecido sem ninguém ver.

- Dá licença, “mó” difícil achar um lugar bom e me aparece esse homenzinho verde para estragar tudo, isso não vai ficar assim!

E no dia seguinte, lá ia ele com toda a sua coragem tirar satisfações com o homenzinho verde.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 02/10/2009
Código do texto: T1843243
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