Amor Incondicional

Era desses amores que não exigem nada em troca.

Ele me amava sem pedir que eu retribuísse, mas eu não resistia àquele amor e àquela alegria contagiante, e retribuía.

Morávamos juntos na casa dos meus pais. Quando eu ia chegar ele contaminava todo o ambiente com o seu sentimento, espalhava por todos os cantos da casa a sua satisfação por existir e poder viver esse amor sem preconceitos.

Dois machos amando-se assim é coisa que ninguém assimila tão facilmente. Aquele amor, ao contrário, era por todos compreendido, até incentivado, ouso dizer.

Nos conhecemos quando éramos ainda pequenos, cada um tentando aprender os caminhos da vida. Muito cedo eu já percebia o comportamento dele, assim, todo faceiro. Eu gostava desse assédio. Nossos encontros, nos tempos idos, eram calorosos, felizes, e tudo era permitido. Ele gostava de fungar no meu ouvido e lamber meu pescoço. Confesso que isso era um pouco incômodo, mas eu gostava assim mesmo.

Ele entrou na minha vida no momento em que foi separado de seus pais e irmãos, os quais nunca mais teve contato nenhum. Apesar da história triste ele era muito alegre.

Éramos mais que amigos. Tínhamos um elo, uma química toda nossa.

O fato é que ambos nos tornamos adultos e a separação se tornou inevitável.

No dia do meu casamento ele pareceu pressentir que eu teria que sair de casa, morar em outro lugar, deixá-lo deserto de mim. Não sei se ele chorou, mas eu sim.

Crescemos juntos, tivemos muitos momentos alegres. Essa separação foi muito dolorosa.

Mas era o destino e assim tinha que ser.

Casei e fui morar num apartamento. Vários anos se passaram e ele jamais foi me visitar.

Hoje eu soube de sua morte.

Já estava bem velhinho, com 20 anos de idade.

E tudo que me lembro dele é quando abanava o rabo quando eu entrava.

Outra lágrima banhou meu rosto.

Almir Ramos da Silva
Enviado por Almir Ramos da Silva em 02/10/2009
Código do texto: T1844460
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