Viajando por ali e aqui 


Aparecida e Fátima (5)
 
 
         Por duas vezes eu fui a Aparecida do Norte. Da segunda vez, tenho poucas lembranças. Aliás, lembrança nenhuma. Só da volta, quando trouxemos os noivos e os deixamos em uma estação de Águas. Acho que São Lourenço, mas nem disso me lembro. Sim, eu fui assistir a um casamento e nem foi há tanto tempo assim. Mas eu não punha fé no tal do casamento e cheguei a sugerir ao noivo que desse no pé. Mas ele não quis, paciência. Da primeira eu também não me lembro de verdade. Mas histórias foram contadas durante anos e essas histórias fazem parte de minhas lembranças. E existem fotos. Em uma delas eu estou com olhos inchados de tanto chorar. Birra. Eu queria uma bolsa branca e rosa, mas me compraram uma vermelha. Porque combinava com meu vestido.  De forma que, quando me disseram que durante a viagem pela Europa iríamos a Fátima eu pensei em não ir. Vou ficar dormindo na cama maravilhosa do Hotel Tiara. Ou perambular pela velha Lisboa. Mas não vou. Não sou Católica fervorosa. Aliás, nem sou católica. Ou fervorosa. Mas foi aí que algo aconteceu. Eu estava no banho e comecei a cantarolar uma velha canção que aprendi na infância. Nem sei exatamente se cantarolava corretamente. Mas cantarolava. “Aos treze de maio, na cova da Iría, do céu aparece, a virgem Maria. Ave, Ave, Ave Maria!” Voltei no tempo e me lembrei como na infância eu me encantava com a história dos três pastorinhos e como eu temia a revelação feita a eles. Lembrei de uma visita que uma imagem de Nossa senhora de Fátima fez a minha pequena cidade e também de que eu fora a pessoa escolhida para saudá-la. Foi meu primeiro discurso. Então, eu fui. Devia isso a minha história.
Fátima é pequena. Não tem dez mil habitantes. Fica a menos de duas horas de ônibus de Lisboa. Tornou-se centro de atenção em 13 de maio de 1917 quando se iniciaram as aparições de Maria para três crianças: Lucia, Francisco e Marta. Hoje, abriga um dos maiores complexos religiosos do mundo: a área que ocupa é duas vezes maior do que a Praça de São Pedro, no Vaticano. 
É um lugar bonito e tranquilo. No dia em que fui lá, é claro. Dizem que nos dias 13, principalmente de maio a outubro, lota. Naquele dia estava tranquilo. Também estava todo mundo assistindo missa. Só a Igreja da Santíssima Trindade pode receber 9000 pessoas. Assentadas. É a quarta maior Igreja do Mundo. E ainda tem a Basílica e inúmeras capelinhas. Todo mundo rezando. E outros comprando. Também comprei, é claro. Um terço para minha mãe. Uma vela para minha mãe. (Pobre vela, com o calor mudou de forma várias vezes.) E um anjo, para a minha coleção de anjos. Um anjo barrigudo e feliz. E sim, eu também rezei. Do jeito que sei rezar. Por um longo tempo fiquei assentada em um banco da praça olhando o céu e pensando. Foi um desses momentos transcendentes em que, parece-me, encontro-me completamente integrada ao Universo. Valeu. Depois, voltei a Terra e fomos almoçar. E atender as necessidades de gastar dinheiro na Grande Loja que existe em frente. Depois, partimos para Óbidos. Linda, linda, linda...

E sabem de uma coisa? Estou achando que preciso visitar Aparecida de novo. Para tirar a má impressão.
(Lavras, 02 de outubro, aniversário de minha mãe)