ANIVERSÁRIO

Acho que nunca gostei do dia de meu aniversário. Nas manhãs do dia Primeiro de maio, fingia dormir só para não receber os parabéns de meus pais, pois sempre fui um pouco tímido para essas coisas. Ficava deitado, imaginando que, de alguma forma, todos esqueceriam aquela data fatal.

Infelizmente, todos a lembravam. “Parabéns, meu filho!”, diz a minha mãe. “Que Deus te ilumine e te dê muitos anos de vida”, fala o meu pai, com toda aquela liturgia católica que carregara desde a época do seminário. Sim, meu pai quase virou um padre. Muitas vezes, acho que nasci por pura ironia do destino.

Como dizia, a aproximação do primeiro de maio nunca gerou, em meu espírito, ansiedade alguma, a não ser quando era criança, época em que desejava arduamente receber de presente os tão sonhados bonecos do Bem-10, Comandos em Ação ou outros do gênero. Os brinquedos eram meus únicos amigos de infância, pois compactuavam comigo toda a solidão de quem vive na cidade grande, cercado por muros fechados, semáforos e nuvens de dióxido de carbono. De alguma forma, sempre tive inveja dos meus primos e colegas que viviam no interior, já que gozavam de uma vida mais simples e nunca sentiam falta das necessidades da vida moderna (o que não posso mais afirmar hoje em dia).

Por que nasci logo em um feriado? Talvez, se tivesse nascido em um dia normal, este sentimento que me invade nessa data seria convertido em algo menos devastador, transformando-se em um momento especial e cheio de importância. Por que não nasci no dia dois ou três? Ah, se isso tivesse acontecido, eu não seria eu mesmo, e toda essa melancolia estaria bem longe agora.

Não. Não posso culpar o pobre feriado em homenagem ao trabalhador de ser o carrasco de minha alma. Que o culpado seja eu então. Que o culpado seja esse friozinho que invade meu estômago toda vez em que abro a porta do quarto para receber o singelo abraço dos meus pais e atender aqueles telefonemas familiares, que insistem em tocar às sete da manhã, como se desejassem, de propósito, acordar-me para encarar a realidade desse dia.

Gostaria que o leitor compreendesse a minha angústia. Sabe que dia é hoje? Não? Se não sabe, informo-lhe: trinta de abril. Sim, trinta de abril. Amanhã será primeiro de maio. Entende? Amanhã, mais uma vez, irei acordar cedo (mais cedo do que o de costume). Quem sabe acordarei com um telefonema de algum parente, ou acordarei porque nem dormi. Só sei que, amanhã, irei fingir que durmo, até a total impaciência invadir meu corpo, obrigar-me a levantar e a colocar o primeiro pé no chão - quem sabe o direito. Provavelmente, olharei as coisas ao meu redor e terei de encarar minha fortuna: abrirei a porta do meu quarto. O que virá em seguida?

- Parabéns, meu filho!

- Que Deus te ilumine e te dê muitos anos de vida!