Progresso versus violência

Esther Ribeiro Gomes

A humanidade, ao longo da história, teve períodos de maior ou menor violência, cujo estopim sempre foi o mesmo: ganância do homem.

Nesses tempos modernos, o flagelo é o tráfico de entorpecentes, atingindo nossos jovens que viciados pelo traficante, se deixam seduzir pelo dinheiro ‘fácil’, proveniente das drogas.

Podemos dizer sem medo de errar que a miséria, por si só, não é vilã da violência que vem crescendo assustadoramente em nossos dias.

Há pessoas muito pobres, porém honestas, trabalhadoras, tendo que residir em favelas e conviver, infelizmente, ao lado do crime ‘organizado’, suportando a violência e a guerra do tráfico ao lado de suas casas!

Há, sim, vários fatores que conduzem a esse quadro de violência, da qual somos todos reféns.

Por primeiro, nossa sociedade de consumo, que invade a mídia, varrendo todos os valores éticos que deveriam imperar na educação de uma família.

Hoje o ‘ter’, sobrepujou o ‘ser’, fazendo uma verdadeira ‘lavagem cerebral’ nas pessoas, principalmente em nossos jovens, resultando nessa inversão de valores.

A falta de espiritualidade neste mundo materialista prioriza o sucesso, o poder, o dinheiro e a aparência física, em detrimento dos valores morais. Malham-se os músculos, esquecendo-se de aprimorar os neurônios para um engrandecimento moral, base da verdadeira felicidade.

Nos lares modernos, as famílias educam seus filhos, dando-lhes todo conforto material possível, com ênfase nos estudos, o que é louvável.

Mas e a educação religiosa? Sem Deus, a humanidade não chegará a lugar algum. Antigamente era comum a famílias frequentarem semanalmente as igrejas, dando exemplo aos filhos, desde a mais tenra idade, formando uma personalidade baseada na ética e na doutrina cristã. Ensinar aos filhos a solidariedade no acolher o outro como irmão, saber que nosso direito termina onde começa o do próximo, enfim, educá-los desde cedo a respeitarem para serem respeitados, ajudando-os a construírem suas personalidades através de valores sólidos e perenes que são a base para formação do caráter do ser em desenvolvimento.

E a melhor educação, sem dúvida, é o exemplo!

Outro fator desencadeador da violência é a má distribuição de renda e escassos programas sociais, onde muitos morrem de fome e alguns de indigestão...

Enquanto não houver mudanças drásticas na distribuição de renda, onde grandes fortunas se concentram nas mãos de poucos, continuaremos vivenciando essa guerra civil urbana que a mídia diariamente derrama em nossos lares.

A falta de emprego e de oportunidade leva muitos jovens para a criminalidade, onde, sem ter outro parâmetro, deixam-se seduzir pela figura do traficante que tem dinheiro e ‘poder’. Atraídos por esse aparente ‘sucesso’, são envolvidos cada vez mais no mundo do crime, de onde dificilmente conseguem sair.

A boa educação proporciona ao ser em desenvolvimento os valores morais necessários à formação do caráter. Mas como exigir da grande maioria da população que eduque seus filhos, se o mínimo de cidadania lhes é negado? Não têm emprego, moradia digna, escolaridade, sem falar na assistência à saúde, tão precária em nosso país!

Nos lares menos favorecidos, em consequência da má distribuição de renda e do desemprego, as famílias lutam para sobreviver em condições desumanas, não tendo o básico necessário para uma vida digna, à qual fazem jus como cidadãos!

Essas famílias, em geral com prole numerosa e sem perspectivas de futuro se desestruturam e os filhos, permanecendo nas ruas, se envolvem com elementos de vida delituosa, atraídos pelo lucro fácil advindo do tráfico de entorpecentes. Ao adotar o traficante como parâmetro, o jovem não se dá conta que é usado e manipulado através do vício, sendo eliminado quando deixa de ser útil ao crime.

Para resolver o problema da violência, não adianta apenas culpar o governo. Cada um tem que fazer a sua parte, todos nós temos responsabilidade social. Se cada um de nós levar um tijolinho de solidariedade, num dia não muito distante, teremos construído uma edificação plena de cidadania!

A sociedade não pode esquecer que o progresso é sempre bem-vindo, mas jamais deve atropelar o ser humano que precisa ter seus direitos básicos respeitados. Se nada for feito, veremos a violência continuar crescendo desenfreadamente, fazendo-nos sentir perplexos e impotentes, vivendo confinados nos cárceres do nosso egoísmo!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 04/10/2009
Reeditado em 23/11/2009
Código do texto: T1848408