MEDITAÇÃO

As árvores estão tristes, os pássaros estão mudos, as crianças não brincam na rua, a natureza toda parece se recolher diante do tom cinza desse dia úmido que me deixa tão deprimida. Esta angústia me persegue desde crianças. Recolho-me em meditação, tentando descobrir de onde vem tanta tristeza diante de um dia assim, desesperadamente sombrio, que não deixa os raios de sol aquecerem a minha alma. Quero ser feliz no frio ou no calor, na chuva ou no sol. Mergulho fundo no passado e quase consigo chegar a razão de tanta aversão a este estado climático entediante, quando de repente o vizinho começa uma discussão acalorada com a esposa, aos brados, com palavrões e barulho de objetos quebrados. A mulher grita e chora e o marido parece que está destruindo toda a casa.

Tirada abruptamente do meu recolhimento, sobe-me a cabeça a idéia de vingança. Passo a mão no telefone e disco 190. A sirene da viatura policial me traz uma grande satisfação. Apesar do dia continuar sombrio e triste, sinto um prazer estranho por ter castigado aqueles que me tiraram do recolhimento e da meditação, que quase chegaram a me trazer de volta as vozes do passado longínquo, perdido no tempo, mas certamente ainda vivo lá bem no fundo de minha memória.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 04/10/2009
Código do texto: T1848415
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