A Campainha do Tempo

Não havia despertador ferindo nossos ouvidos e estuprando os nossos tranqüilos sonos. Era ele, nosso galo de penas douradas e negras, quem nos acordava cedinho, ainda escuro, com seu mavioso cântico, aquela musica quase divina que ecoava na imensidão do campo, sempre alternada por outros da mesma espécie e se prolongava até o raiar do sol. Escolhia-se a hora de levantar: aos primeiros acordes, aos seguintes e seguintes ou até aos finais, com o sol entrando pela janela.

De qualquer maneira era um despertar ameno, delicioso, sem sobre-saltos, sem a irritação de uma estridente campainha ferindo os nossos tímpanos.

Era a musica da natureza, a voz dos galos, dos cabritos, dos porcos, o mugir das vacas, a sinfonia dos pássaros e o frescor do amanhecer, convidando para um novo e maravilhoso dia.

Realmente era a campainha do tempo, de um tempo distante em que vivi no encantamento da vida, em plena natureza, sem o barulho das grandes cidades, que nos tiram a calma logo ao amanhecer, com a voz esganiçada dos locutores de rádio a nos despertar de um sono nada tranquilo, povoado dos ruídos ensurdecedores de uma cidade despertando e irritando logo cedinho os nervos de seus habitantes, pobres habitantes que não tem direito nem a um despertar ameno.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 04/10/2009
Código do texto: T1848418
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