PRIMEIRO BILHETE

Doze anos de idade, magrela, fininha, perna de passarinho, peitinho. Sentindo-me feia, sem graça. Mas tinha menino olhando, só que eram quase todos tímidos. Detesto timidez, nunca sofri desse mal. Depois fiquei sabendo que muitos dos amigos do meu irmão apareciam mesmo era com outro interesse. Cunhado! Tome murro!

Estou postada no janelão no interesse de olhar, não só o movimento da rua, mas principalmente eles, os garotos. Cada um mais bonito que o outro. Chega um feiosinho e fala comigo. Que raiva danada. Eu chorava durante três dias se um feiosinho se demonstrasse. Os muito feios, como lembrou Vinícius, me desculpassem, pois beleza é fundamental. O mensageiro não tinha graça, mas o remetente era uma coisinha linda.

Esticou o braço para alcançar o janelão. Olhe aqui que João mandou. Era um papel bem dobradinho. Depois que saiu o mensageiro, abri o papel sem entender. Era uma folha de caderno, cortada do lado pra não mostrar aqueles farrapos de papel extraído de caderno espiralado. E eu sem entender. Mas, como João já estava na retina dos meus olhos, a expectativa foi emocionante. Foi meu primeiro bilhete. É como o sutiã, a gente nunca esquece.

O gosto pela leitura e pela escrita já veio informado no meu mapa genético. Aquela mensagem quase me cega. Que raiva. A raiva foi tanta que ainda me incomoda. As letras feias. Homem acha que pra ser homem tem que ter letra feia. Aquelas redondinhas e arrumadinhas são femininas. Tava em cima o vocativo, tenho até vergonha, mesmo sendo uma crônica: TANHA. Assim o peste do João anotou meu nome tão querido. Aquele apelativo me nocauteou: TANHA, TANHA, TANHA. Não sabe ler, desgraçado.

Quase rasgo logo o bilhete. Tivesse feito isto você não estaria lendo esta página. A curiosidade matou o gato, a mulher idem. Continuei a leitura daquela terrível cartinha sem envelope. Que horror o texto: TANHA (de novooooo) GOSTARIA DE SABER DE VOCÊ SE DESEJA SER FELIZ COMIGO. MARQUE COM UM X A RESPOSTA. Minha mãe de Deus, eu quase morri. Depois, abaixo, lá estava o teste de múltipla escolha:

--------------SIM ou ---------NÃO.

Querido leitor, querida leitora, se quer ser meu amigo/a, favor não me perguntar qual foi a resposta.