O Poções, que nem Michael Jackson

Na época, a política sufocou os comentários da queda do Poções para a segundona baiana. Não se comentou mais. Morreu o assunto.

O segundo maior orgulho da nossa terra agonizou e morreu.

Aqui em Salvador, eu tive a oportunidade de conversar duas vezes com o comentarista Eliseu Vinagre de Godoy (ex-jogador do Santos e Bahia, atual dirigente esportivo). A impressa baiana falou mal, meteu o pau na administração de Raimundão. Argumentou que o Poções teve a chance de ficar à frente dos dois times que perderam seis pontos cada e não soube aproveitar. Não armou um bom time, segundo ele.

Eliseu está certo, mas a gente sabe a realidade do fracasso e eu não perdi a oportunidade de dizer que existiram duas razões a mais: a de que o Bahia com um time de reservas conseguiu perder para o Madre de Deus, num jogo controvertido, após estar vencendo por dois a zero. O Madre saiu da lanterna e fugiu do rebaixamento, largando a bronca para o Poções – uma armação comum no futebol baiano. Quantas vezes essa partida foi adiada? (mas o castigo do Bahia ta aí, ameaçando encabeçar o rebaixamento – subir, ele não sobe e isso é óbvio – segunda eterna, Bahêêêêêêêêaaaa!).

A outra razão é simples. Mataram o Juazeiro em 2008 e o Poções em 2009. O Guanambi, que fez uma excelente campanha, também não conseguiu subir por dois anos consecutivos sendo prejudicado nas últimas rodadas. Ano que vem será a vez do Conquista ou do Ipitanga se insistir continuar jogando em Senhor do Bonfim.

No caso do Poções, há uma explicação que é simples e lógica. Todas as rádios de Salvador iniciam suas transmissões falando das condições da viagem. Sentaram o pau na Camurujipe e contaram as vezes que o ônibus parou para colocar água no radiador durante a vigem entre Salvador e Poções. A televisão não reclama muito, pois manda uma equipe e a cidade de Conquista é perto. Quem faz jornal, escreve o que ouve no rádio.

Então, os radialistas são os que viajam. Um “bocado” de velhos cansados e acomodados que não querem mais sair da região de Salvador para transmitirem os jogos à longa distância, alimenta os bastidores e comemora o resultado da queda do Poções.

Restou o nome daquele que foi, orgulhosamente, o (vice) campeão de 99. O que revelou tantos jogadores que brilham no futebol mundial. No Google, se você colocar a expressão “o Poções”, teremos 10.200 citações. Nenhum outro assunto da cidade traz tanta projeção.

De tanto sucesso desde jovem, nosso time está insepulto que nem Michael Jackson, esperando um destino.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 06/10/2009
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