Sinto-me num mundo kafkiano...

Sinto-me envolvida num mundo kafkiano como aqueles protagonistas que nunca conseguem terminar suas tarefas ou sair de seus labirintos. Há um atoleiro mental me consumindo, até em sonhos ando ao redor em ruas que nunca percorri. O sol domina as vias, mas não invade os meus dias submergidos por tantos e intermináveis afazeres e desprazeres... Existem círculos envolvendo diariamente atos rotineiros, tudo se repete, entretanto não há modificação. São anéis que me esmagam circundando anos, meses, semanas, dias horas e minutos intermináveis. Tudo que podia ser nunca chegou a se transformar em alguma coisa concreta na minha vida. Sartre diz mais ou menos assim: O que importa não é aquilo que fizeram conosco. O que, realmente, importa é aquilo que nós faremos com o que fizeram conosco.

Eu contesto, às vezes, não sabemos o que fazer com o nada e com o tudo que improvisaram conosco. Chumbeia-me a vida... Mesmo quando o vento açoita as árvores tocando levemente nos meus cabelos e o sol brilha incandescente, sinto-me só, dolorosamente e ilimitadamente sozinha. Muito enfastiada desta história perfeita construída somente em molduras de retrato. Uma existência recorrente e repetitiva em desamor e entremeada em conversas fúteis e inúteis com enganos triviais. Tudo poderia ser.... Porém não foi,assim como não será jamais de outra forma, pois todas as maneiras já foram tentadas e nada... A vida circula, mas não anula o que já passou, deixando rastros pesados como coturnos enlameados num tapete alvo.

No mundo kafkiano desconforto é constante e uma irrealidade se constitui permanente, assim como no meu universo, não sei ir, mas também já não consigo ficar. Há tantos porta- retratos perfeitos com imagens e sorrisos congelados em minha casa. Tranquei-me num redemoinho giratório em que os sonhos abdicaram da sua função de realidade. Digo em variados tempos: amanha será melhor, contudo o dia seguinte não permanece. Ele desvanece como as fotos antigas que vão ficando amareladas e esquecidas numa gaveta qualquer. Assim sou em círculos de chumbo que pesam.... Ora penso que vou, ora penso que estou....Ora penso que já nem sei quem sou...

10/10/2009

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 10/10/2009
Reeditado em 11/10/2009
Código do texto: T1858767
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