A PALAVRA DESMEDIDA

Cada qual falava o mesmo fato à sua maneira, invertendo uma palavra, duas... E o fato se transformava, crescia em calamidade. Apenas uma palavra, duas e a vírgula trocada. Talvez por amor assim sucedia tal tragédia, mas o gesto humano é terrível e inconstante, louco até. Uma palavra a mais ou uma palavra a menos podem fazer a diferença na vida.

Um dia alguém (eu não sei e não vi), resolveu espalhar um boato sobre um tal Mário Amadeu Carneiro, residente à rua Botelho Araújo nº 143, Vila do Meio. Mário trabalhava como carteiro no centro da cidade, na avenida Felisberto Siqueira n° 1204. Andava sempre na sua bicicleta vermelha, velha e barulhenta. Mas a história foi a seguinte:

Nas bocas, nos becos, nas calçadas, nos olhos espantados de toda gente correu a notícia de que Mário batera em Fulano para logo em seguida roubar a venda de Ananias Barbosa, conhecido como Fuinha, além disso, discutiu com sua mãe, Dona Clemência, uma senhora de 74 anos. Mário foi perseguido, não tinha advogado, muito menos dinheiro.

A chuva veio sobre a cidade, um outro dia veio e as caras, ainda desconfiadas, reviravam os olhos quando Mário se aproximava. Era culpado! Estava condenado para sempre... Sempre é muito. Estava condenado sabe-se lá por quanto tempo.

Mário nunca batera em ninguém, apenas reclamara do preço do feijão na venda do Ananias, quanto a sua mãe, falavam alto porque sempre fora costume da família falar assim, como se estivessem numa calorosa discussão. Fulano nunca existiu...

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 11/10/2009
Reeditado em 12/10/2009
Código do texto: T1859723
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