Alguns detalhes da Emigração Trentina (1876)



      Um pequeno equívoco permeia o texto “Borgo Valsugana: buscando vestígios”, escrito por mim, e publicado na Revista “INSIEME” de agosto e setembro/2009. Referi-me ao Trento como se pertencesse à Itália em 1876, quando emigraram meus bisavós para o Brasil, mas pertencia à Áustria. O território trentino só foi anexado à Itália em 1918.

Renzo Maria Grosselli, sociólogo e escritor, nascido em Trento em 1952, publicou o livro “VENCER OU MORRER”, onde descreve detalhadamente o fenômeno migratório, especialmente dos Trentinos e Italianos, depois de mais de um ano de extensas pesquisas aqui em Santa Catarina.

A legislação: o Estado Austríaco diante do fenômeno migratório”

      “A legislação austríaca referente à emigração, foi, por muitos decênios, uma das mais restritivas, propensa somente a limitar o fenômeno e não a proteger os cidadãos que deixavam o país”. (pág.160) (...)
“Quando em 1874, a emigração para a América se tornou um fenômeno de vastas proporções, depois de um primeiro momento de dispersão das autoridades austríacas, estas escolherão o caminho da dissuasão da população e, ao mesmo tempo, procurará dificultar a emigração com todas as maneiras legais. Para obter isso lançou mão de uma informação (...) que procurava atemorizar os emigrantes em potencial e de toda uma serie de disposições administrativas que tornavam difícil a obtenção dos documentos necessários para transferir-se para o exterior. Em base a uma lei – Ordem Ministerial 1867, pediu-se aos emigrantes de justificar a posse dos meios para viajar e sucessivamente se lhes pediu de apresentar um documento, fornecido pelo cura ou pelo prefeito, que declarasse o estado de pobreza de quem queria emigrar, sua incapacidade de manter-se e a sua família”. (pág.161) (...)
      “Em 1875 o fenômeno assumiu aspectos preocupantes e, nas estações ferroviárias de Trento e Rovereto, era comum ver centenas de pessoas à espera do trem que os levaria à Verona e depois aos portos de embarque. (...) O povo, especialmente os dos campos, partia em número sempre maior para a América”. (pág.164) (...)
      “A verdadeira autoridade era o clero e o próprio estado austríaco disso tomava conhecimento, procurando fazer um “cinturão de transmissão” da própria voz para a classe camponesa. (...) O próprio tom do apelo demonstra como as autoridades não tinham ainda intuído as causas desta maciça onda emigratória; ao de apelos adocicados ao “venerável clero” e aos “dignos ministros do altar”, se pediu uma vez mais aos camponeses de renunciar a uma sua “mania”, a da emigração, e até se os convidou a “duplicar de atividade”, certos de que fosse o ócio a verdadeira causa do descontentamento que levava o povo para a América”. (pág.165)
(...) “Até que o Trentino permaneceu austríaco, nenhuma lei sobre a emigração foi aprovada naquele país (Áustria) que ficou sendo, assim, o único na Europa ocidental a não tutelar a sorte de seus emigrantes”.(pág.169)

      Observa-se na narrativa do livro que alguns Trentinos emigraram ilegalmente (em 1875 e 1876). Então, uma organização começou a agir em território no norte Italiano e Trentino sob a direção do Cônsul brasileiro de Marselha (França).
Esta organização, liderada por Caetano Pinto, se estruturou no território europeu para poder aproximar-se dos imigrantes em potencial.
(...) “Terreno fecundo para os negócios de Caetano Pinto foram o Tirol Meridional ou Trentino e a Itália do norte. As circulares de 24/10/1874 e 10/06/1875 deram a notícia do contrato entre o governo brasileiro e Caetano Pinto”. (pág.170)
      Começou o êxodo. “Em pouco tempo os vales trentinos foram percorridos por dezenas de homens que se aproximaram dos camponeses, prostrados pela crise financeira e por mudanças sócio-culturais consequentes, convencendo-os a emigrar ao Brasil”. (pág.170)

      Exponho os dados acima, para entender como o Trento e o norte da Itália estavam interligados. De tal forma, que os primeiros colonizadores de Botuverá, inicialmente chamada Porto Franco, neste Estado de Santa Catarina, foram Trentinos e Lombardos, ou seja:
- Tomio, Caresia, Gianesini, (entre outros), todos Trentinos; e
- Pavesi, Pedrini, Maestri, (entre outros), todos Lombardos.
      Essa miscigenação permeou todo o grupo que chegou à Colônia Brusque- Itajaí em 1876. 



                                                               Izabella Pavesi