CARTA DE UM ASPIRANTE A DITADOR

Venho através desta cumprir duas missões, a saber: apresentar-me e defender os regimes ditatoriais da perversa democracia.

Meu nome é Joseph Adolf da Silva Mussolini, filho de Getúlio Silva e Lucrécia Silva, e sou presidente da ADMC, Associação dos Ditadores Mal Compreendidos.

Papai foi durante sua vida o presidente desta instituição, não permitindo jamais eleições que escolhessem seu sucessor. Homem extraordinário, sempre defendeu os interesses do povo, digo, dos associados, de forma que estes nunca tiveram que se expressar para tal. Hoje, após um estranho acidente com o freio de seu carro (investigado por uma comissão interna formada por mim, seu filho, que comprovou ter sido falha mecânica, apesar das evidências de ter sido cortada a mangueira do óleo), dirijo esta excelsa instituição. Ave Cesar Anauê!

Retomando, devo dizer que a ditadura, por impedir a monstruosidade da plena participação popular viabilizada pela democracia (salvo em situações peculiares e reconfortantes, como o governo do camarada Bush), é a melhor forma de governo, por garantir que todos os impertinentes subversivos podem ser sumariamente executados, numa defesa clara da legalidade constitucional, a qual deve deixar claro os limites de cada cidadão. E o principal limite, que garante a ordem e o progresso, é: não existe cidadão, a não ser que eu, ditador, diga que existe.

Assim sendo, repudio desde já as manifestações tolas, e que certamente irão partir de mentes infantis e ingênuas, às minhas nobres e acertadas idéias.

Sem mais, subscrevo-me, com o aval do meu vice-presidente (que não tem o direito de escrever uma carta de próprio punho, pois se encontra encarcerado e com as mãos quebradas por razões de Estado) Fidel Tse Tung.

Joseph Adolf da Silva Mussolini