RECADO AOS JOVENS
(com texto de Vinícius de Moraes)



Pode parecer estranho para as pessoas da minha geração a falta de conhecimento dos nossos jovens sobre quem foi o poeta e diplomata Vinícius de Moraes. Entenda-se por “minha geração” aqueles que viveram os anos dourados das décadas de 1960 e 1970, onde praticamente tudo aconteceu no mundo.
 
         Vinícius nasceu em 1913, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro. Sua obra artística se inicia na década de 1920, quando o poeta lançou o livro “O Caminho para a Distância”. A partir de então, Vinícius caminharia pelos campos da literatura, música e teatro. Faleceu em 9 de julho de 1980.
 
         Foi um dos precursores da bossa nova e a música “Chega de Saudade”, feita em parceria com Tom Jobim, foi a primeira do gênero a ser gravada. O ano era 1958, o álbum chamava-se “Canção do Amor Demais” e Elizeth Cardoso foi a intérprete. Nesse arranjo ouviu-se pela primeira vez a nova batida do violão, tocado por João Gilberto, considerado o inventor do estilo musical que estava surgindo. Aliás, “Chega de Saudade” motivou um comentário sarcástico da mulher de Vinícius que implicou quando ele dizia na letra “pois há menos peixinhos a nadar no mar, do que os beijinhos que eu darei na sua boca”. Disse ela que aquilo era de uma infantilidade e de uma bobagem sem tamanho. Vinícius manteve a letra, a mulher se foi e a música tornou-se um verdadeiro ícone, sendo cantada até hoje, inclusive por intérpretes da nova geração.
 
         Fiz esta breve introdução sobre Vinícius de Moraes, para entrar no tema principal que vem a ser um pequeno texto que ele escreveu dedicado à nova geração e que tem o sugestivo nome de “Recado aos Jovens”. Não me recordo onde foi publicado e agora, ao remexer em meus guardados, encontrei-o datilografado em uma folha de papel já amarelada pelo tempo. Será sempre um texto contemporâneo e a visão do poeta sobre o tema é de encantar a todos aqueles que têm um mínimo de sensibilidade. Vamos a ele.
 
 
RECADO AOS JOVENS - Vinícius de Moraes
 
Eu gosto sempre de dizer aos jovens que se queimem muito no amor e na vida, mas sem se esquecer nunca que a juventude é flor de um dia e é preciso acumular grandes e generosas reservas para se defender do aburguesamento futuro, imposto sistematicamente pela sociedade de consumo que aí está para enlatar e rotular todo mundo.

Entre essas reservas, eu acho que a cultura, a poesia e a música são muito importantes, mesmo que essa cultura importe numa contracultura.


Digo também aos jovens que não há barato melhor que o do amor, nem viagem mais linda que a da realidade, encarada de olhos abertos, sem compromissos com o dinheiro ou com o sucesso, mas apenas com a vida considerada em toda a sua plenitude.


Eu acho que só assim o jovem de hoje não será o coroa, o burguês frio e convencional que a gente vê por aí, nem o velho inútil e desencantado de amanhã.

 
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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 12/10/2009
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