Meio Século

Em 2008, o poeta Pacheco completou meio século de existência. Portanto, esta quinquagésima primavera passou ¨batido¨como tantas outras anteriormente. Para surpresa dos parentes e amigos, não houve bolo quilométrico, nem cinquenta velinhas, cinquenta abraços ou cinquenta presentinhos repetidos. Naquele dia, certamente ele esteve bem longe daqui; talvez pelo fato de não ter nada para comemorar ou cinquenta mil coisas.

Homem de cinquenta mil pecados, cinquenta mil virtudes e cinquenta mil vidas. Plantou árvores, escreveu livros, e fez filho. Pagou cinquenta micos, tributos e indulgências; ainda deve a Deus cinquenta milhões e os olhos da cara.

Praticou mais de cinquenta caridades e poucas maldades. Nunca esteve fora do Brasil, mas conhece bastante seu país. Ele queria ter cinquenta milhões de reais nas mãos ao invés de de cinquenta marimbondos. Assistir aos shows dos Rolling Stones e Pink Floyd, antes que aposentem suas guitarras.

Até então, tivera cinquenta automóveis, cinquenta motocicletas, cinquenta lambretas, cinquenta bicicletas, cinquenta velocípedes, cinquenta bolinhas de gude, cinquenta figurinhas carimbadas e cinquenta cruzeiros.

Acha que tem mais de cinquenta amigos, do que inimigos. Loiras, ruivas, negras e mais de cinquenta morenas grelhadas ao sol, apaixonaram-no mais de cinquenta mil vezes. Adoeceu mais de cinquenta vezes, tomou mais de cinquenta comprimidos e mais de cinquenta mil xícaras de chás. Vírus, bactérias e outros micro-organismos e parasitas, fizeram cinquenta mil tentativas para liquidá-lo, mas não apoderaram nem cinquenta milésimos do seu corpo.

Nasceria cinquenta vezes na mesma placenta, teria os mesmos irmãos, tomaria as mesmas sovas, espelharia no caráter do mesmo pai.

Das cinquenta profissões, elegeu todas que garantissem o sustento da sua prole. Das cinquenta mil religiões, nenhuma delas têm o verdadeiro senhor de sua vida.

Vivenciou cinquenta infernos na terra, cinquenta céus, acima de cinquenta mil arranha-céus. Provou do azedo ao picante, do doce ao amargo, enfim, a mistura de ambos, degustadodos a la carte, sem se importar com as cinquenta mil calorias.

Jamais passou fome, sede ou frio, mas já esteve carente. Nunca ganhou prêmio algum, e sim, cinquenta mil nãos.

Pacheco nasceu junto à Bossa Nova, numa periferia de Belo Horizonte em vinte e oito de outubro, dia de São Judas Tadeu, no mesmo ano em que Michael Jackson foi parido.

Sergio Pacheco
Enviado por Sergio Pacheco em 16/10/2009
Reeditado em 30/10/2009
Código do texto: T1870015
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