Pensando sobre o amor

Admito que eu dizia, e repetia, várias vezes que “quando apaixonada só escrevia bobagens”, mas hoje descubro que a tola e idealizada paixão aliena, mas a paixão consistente, nascida entre duas almas que tem sintonia aguça a produtividade. A “paixão tola” me fazia me interessar pelos assuntos do outro, o idealizado e amado, mas era me forçar a entrar em algo que não me movia. A “paixão consistente” só me mostra que preciso saber um pouco mais sobre o outro, sem me condenar à obsessão sem rosto, é querer saber do que este outro gosta, e do que não gosta, para que não haja conflitos desnecessários, não é se negar, mas poupar os afetos negativos, já que a vida em si já é suficientemente frustrante.

Amor e paixão são dois aspectos da essência humana na relação com o outro, o amor é o sentimento de afinidade magnânimo, já a paixão uma emoção que tende a ser passageira, podendo simplesmente se extinguir dando origem à consciência da idealização, ou se consumando no amor, que é a afinidade consciente das diferenças. Nem todo amor é lindo, há patologias relacionadas ao amor que são geradoras de crimes inclusive, não são apaixonados que matam, pois destruir o objeto de paixão é se matar, mas o objeto de amor é dar a ele outro lugar, delirante obviamente, em outra dimensão, ou privando-o de pertencer a outro simplesmente.

Há quem se diga aposentado do amor, mas deixam de lado que amizade é uma vivência amorosa, onde nos cabe perdoar os defeitos e apreciar as qualidades. Mas há certa descrença no amor que é fácil de compreender: sistema que prega prazer instantâneo e descartável, que não aceita qualquer tipo de frustração e prega o egoísmo não pode se ver diante de relação alguma que envolva seres humanos a longo prazo, pois conviver é ter conflito e frustração, então relacionar-se é só enquanto são rosas. Mas a solidão, resultado obvio desta lógica, pode ser curada com aparelhos eletrônicos, drogas legais (ou ilegais) ou o mero consumismo que sempre promete que se tivermos isto ou aquilo alcançaremos a felicidade!

Talvez o amor seja a incerteza mais profunda, o encontro mais caótico e realizador que exista, pois encontrar no outro compreensão e admiração sendo tão cheios de defeitos é tão fantástico! Imaginar que podemos gostar de alguém, sentir genuína admiração por aquilo que este é, pelas suas belezas e bobagens, por seus detalhes tão peculiares, suas manias, seus olhos sonhadores, seu sorriso, sua simplicidade, suas auto-afirmações, seu jeito de pensar, ou de contar piadas infames, parece que os lábios se movendo formando frases nos hipnotizam, tornando-o familiar, quase uma extensão nossa. É como se tomássemos como parte nossa este outro, um anexo que buscamos por tempo demais, onde podemos guardar nossas maiores virtudes, viver nossas maiores loucuras, confessar nossas mais secretas bobagens, e até mesmo confessar nossos defeitos, nossas picuinhas gratuitas, nossos pecados capitais sem medo.

Ainda temo cair mais uma vez na desilusão obvia: estava enganada, era uma projeção do que buscava que acreditei ter se materializado em alguém... Mas eu posso SER tudo isso pra alguém, e se eu posso por que não crer que há quem possa ser assim para mim, se hoje, ou daqui a dez anos, eu não pretendo endurecer meu coração e muito menos sublimar, virando cientista ou alguém que negue o amor ocupado-se de algo mais “nobre”, afinal, o que há de mais nobre que o amor? E se em minha alma cultivar rancor, raiva da injustiça do desencontro, o que poderia produzir de bom? Se me machucar, pretendo me tornar mais humilde, se errar vou me arrepender, aprender a lição e prosseguir, se a esperança começar a desvanecer, buscarei meus amigos, para que me lembrem da luz que algum dia já esteve em meus olhos e façam reacender, e se eu morrer não quero ir como quem encontra alivio, mas quem lamenta ter perdido alguma oportunidade de fazer o bem...

Se você acredita no amor, então ame seus amigos, familiares, sonhe com os filhos que gostaria de ser dando carinho às crianças que cruzarem seu caminho, plante flores com seus sorrisos e regue com gentileza, pois em algum momento verá os frutos de afeto que viram a seu encontro.

Para amar, e ser amado é preciso aprender a ser amor com quem suas mãos alcançam...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 17/10/2009
Reeditado em 26/10/2009
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