Luiza

UM POEMA DE AMOR: LUIZA

QUADRO: “Luiza no parque”

Finalmente depois de tanto desespero, o eu encontra o amor, e aqui não existe teoria que consiga explicar o amor de um pai pela sua filha e além disso esse poema é muito recente e ainda não consigo vê-lo como algo escrito por outra pessoa. Esse afastamento está presente na analise das canções desesperadas, pois eu não consigo me identificar com o vocabulário, a forma inocente da escritura, a ideologia implícita, a esperança de poder salvar o mundo com a arte, e especificamente a música.Dessa forma, não pretendo analisar o poema, e sim dar um testemunho, daquilo que eu queria dizer com ele e algumas reflexões muito mais psicanalíticas do que literárias.

“Quando abrir a porta do seu quarto” não só traz a imagem das portas da percepção de Huxley, − ao abrir o quarto, abro juntamente a minha percepção para aquele pequenino ser dormindo num quarto escuro, dormindo como se estivesse no útero materno −, mas também finalmente perco o medo e abro a porta para os tempos modernos, tempos de renovação. Também não mais medo do escuro, das sombras e dos fantasmas porque essa pequena criatura emana luz e poesia.

Mas simplesmente vê-la dormir não basta, pois após esperar por nove meses a sua vida no mundo, é impossível não querer abraçá-la, confortá-la nos meus braços. Essa espera já havia sido desenvolvida numa música que fiz para o meu primogênito Pablo e dizia: Esperar/Esperança/O tempo vai passar/Do ventre à primeira luz/Você vai acordar, assim, é impossível não relacionar cada “Acordar” com um novo nascimento, com uma nova passagem para a claridade apolínea.

Mas, nessa perspectiva nietzscheana do eterno retorno, a criança que acorda também sou eu. Eu também recebo essa luz que vem com a sabedoria de Apolo, eu também volto a nascer através dos sorrisos de Luiza. O sorriso de uma criança é talvez a coisa mais ingênua que o ser humano possui, esse sorriso aparece a partir de um simples reconhecimento de alguém que lhe dá atenção. Esse sorriso ingênuo com o tempo vai se transformando para algo sarcástico que se mostra muito mais no seu caráter abjeto, naquilo que não queremos reconhecer. Daí, sai o riso e toda o seu caráter humanitário (os animais não riem) e entra a saga da seriedade com todos os padrões trazidos pela religião e a sociedade.

Mas, a criança ainda não foi cooptada pelo sistema, e daí pode brincar e brinca num tempo que não é regido por Cronos, o devorador do tempo, e sim, como já mencionamos por Aeon, e brincar e amar são sinônimos. Somente o amor que é levado numa forma brincante é amor, pois se colocamos a seriedade e objetivos nele, o amor se deforma e vira mercadoria, ou seja, na sociedade moderna não foi só o homem, conforme Marx que se coisificou, o amor também perdeu sua característica de só sentimento para virar coisa.

O “Vem cá Luiza” também diz “Vem cá Luiz”, dispa-se de todas as armaduras, tire das costas o peso da perda da inocência, libere todas as representações reprimidas do inconsciente e volte a ser feliz, volte a amar, volte a fazer os outros rirem (a criança em sua ingenuidade é mestre nessa atividade). Volte a ter a ingenuidade do palhaço, um palhaço que só é engraçado porque age como uma criança, que não está arraigado aos padrões de inteligência e lógica da sociedade, um palhaço que é engraçado porque é enganado. Mas quem é que engana quem?

Voltar a fazer as loucas travessuras, travessuras que ... Fora do tempo Cronos, fora do espaço que encarcera, eu me lembro que quando eu era criança, brincava no quintal da minha casa e tudo parecia maior, o pequeno barraquinho que servia para a minha mãe passar roupa parecia todo um mundo de madeira, bichinhos e ... Depois de muitos anos eu voltei ao local e achei tudo muito pequeno, será que eu cresci ou as coisas diminuíram.

Voltar ao mundo das aventuras e dos sonhos, sou superhomem, espero Papai Noel, brinco de ciranda, danço, danço, danço...

O subconsciente sempre advertindo: Vem cá Luiza, vem cá Luiz.

Luiz Zanotti
Enviado por Luiz Zanotti em 18/10/2009
Código do texto: T1872888
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