Beba com o coração

Segundo a revista Veja de 21 de outubro de 2009, pesquisadores da Noruega descobriram que as pessoas que bebem socialmente, e de forma comedida, tem 50% menos chance de sofrer de depressão que os abstêmios. Porém, como se sabe, o álcool em excesso causa varios efeitos nocivos, e entre eles exatamente o oposto do descoberto na pesquisa: baixam o nível dos neurotransmissores associados ao prazer, induzindo assim à depressão. À parte o gracejo final da revista - que questiona onde foi que os pesquisadores encontraram noruegueses que bebem moderadamente (ah, eu queria ter escrito isso!) - a ambiguidade foi solucionada pela análise comportamental dos bebuns light, já que não seria necessariamente o álcool, mas sim seu estilo de vida o que os protege da doença. A bebida, nesses casos, seria um mote para reunir amigos e familiares, promover atividades sociais e manter relações pessoais, tão importantes para nossa sanidade mental.

Uma coisa é tomar parte de um grupo de amigos queridos e beber um ou dois chopinhos num bar agradável, numa noite quente, falando amenidades, lembrando de fatos divertidos e dando risadas. Outra é encher a cara, mesmo sozinho, para esquecer dos problemas ou minimizar as dores, e descobrir que o álcool é um paliativo relativamente eficaz contra as nossas mazelas - que não desaparecem, apenas ficam grudadas como crostas numa parte do cérebro que a bebedeira temporariamente embota, para voltarem mais fortes depois. Num grupo de pessoas bem humoradas e de confiança, os problemas podem ser repartidos, cortados em fatias finas e servidos junto de uma cerveja gelada, quando são facilmente digeridos; porém se estamos sós, os problemas são engolidos inteiros, com casca e tudo, à base de cada vez mais álcool e amargura. E, como sapos vivos, entalam em nossa garganta, sendo regurgitados junto com a bile na terrível ressaca do dia seguinte.

Aos abstêmios, eu digo: fazem muito bem. O álcool não é e jamais foi resolução de problema algum. Mas não beber não deveria significar solidão ou exclusão social. O importante é não se furtar a encontrar os amigos. Não importam as bebidas consumidas, importa a sua quantidade (a moderação é a tônica!), mas, principalmente, a qualidade das pessoas em torno delas. Sejam essas bebidas quais forem: um copo d´água ou um suco natural de frutas , uma caipirinha ou uma coca-cola - normal, light ou zero, tanto faz, já que totalmente inofensivas também não o são. Mesmo assim... Saúde!