Potó, o besouro do cão

Wilson Correia*

Você conhece o potó? Pelo fato de ele não ser encontrado no Sul, Sudeste e Centro-Oeste brasileiros, mas sim no Norte e Nordeste, cheguei no Tocantins sem conhecer a fera, como se adentrasse os cafezais mineiros sem conhecer, por exemplo, a cobra coral, onde essa energúmena é uma praga, ainda que ela não seja uma exclusividade mineira.

Pois bem! Um dia, esperando um ônibus numa rodoviária, dei-me o insignificante luxo de deitar no banco para aguardar o momento do embarque. Fiz isso bem debaixo de uma lâmpada e acordei com uns serzinhos pequenos passeando sobre meu rosto, com aquela sensação de patinhas escavando minha pele, meio cócegas, meio pisadinhas. Não chegava a ser uma ferroada.

Ato natural, quase involuntário, passei a mão na face como a tirar aqueles que me pareceram “aleluias voadoras", “cupins alados”, que ali tinham se reunido por conta da lâmpada acesa sobre minha cabeça. Não eram nenhumas, nem outros animais; eram potós.

A estampa de um potó é bela: flamenguista como eu, é listrado de preto e vermelho. Porém, quando tocado, exatamente como se sentiram com o passar da minha mão, eles, instantaneamente, soltam algo semelhante a caldo de pimenta sobre sua pele. A diferença é que esse caldo não apenas arde, mas queima. Faz queimadura de segundo grau, deixa uma marca horrorosa no local, a qual leva até três meses para sumir. Potó provoca muita dor com esse líquido do cão. A gente sente a região afetada como embebida de álcool em chamas, daí a sensação de que a pele está literalmente queimando. Dói, dói muito e é um incômodo extremamente desagradável, pois acarreta outros sintomas nada bons.

Foi o que me aconteceu naquele dia. Como eu havia me levantado e dirigido imediatamente para o interior do ônibus, no qual dormi até chegar em Palmas, só fui dar pela queimadura quando desembarquei na rodoviária. Resultado: em vez de ir ao hotel, fui direto para o médico. Eu sentia febre, tremor de frio, dor de cabeça e um prurido incontrolável que não me deixava parar de coçar o local afetado. Quando me viu, o médico disse:

– O potó te pegou – afirmação imediatamente contestada por mim:

– Imagino que foram os cupins alados, as “aleluias” – disse por ainda não conhecer o tal potó, nem saber do que ele era capaz.

Recebi a indicação de remédios e saí do consultório, mas ouvi o médico dizer que “sim”, aquilo tinha sido “ataque de potó”.

– Potó? – fiquei encasquetado.

Quando vi uma confirmação sobre outra de que realmente tinha sido potó os insolentes bichinhos que tinham feito do meu rosto um verdadeiro “xixitório”, fui procurar saber qual era a graça daquelas criaturinhas. Aí, num trabalho de Veiga (1987), encontrei o seguinte:

O potó é um besouro queimador, que ataca para se defender. Ele é um inseto da “Ordem Coleoptera (besouros)”, membro da família “Staphylinidae”, de “gene Psederus”, o qual os argentinos chama de “bicho de fuego” ou, simplesmente, “fuego”. No Brasil, ele atende por “podó”, “potó” ou “trepa-moleque”. Já dá prá ver que o bichinho não é do bem (se atacado).

Por isso, é preciso saber que o potó é atraído pela luz branca, razão pela qual ele surge mais à noite. Não dá, portanto, para ter portas e janelas abertas e sem telas, senão ele entrará mesmo. Mosqueteiros também ajudam a barrar o potó.

Uma outra forma de impedir a aproximação desse besouro diabólico é usar luz amarela dentro de casa ou, ainda, colocar luz branca a uma distância considerável para mantê-lo ao largo do ambiente. Os inseticidas podem ser mais prejudiciais do que a queimadura provocada pelo potó e é bom deixá-los de lado.

Por fim, se o potó já estiver sobre a pele, nem pense em esmagá-lo, pois o líquido causticante dele só é liberado quando o bichinho é atacado (é um animalzinho defensivo). Até ser visto por um médico, caso o potó cause queimaduras, o jeito é ir aliviando a coisa com pomada tipo Hipoglós.

Por saber dessas coisas, hoje faço de tudo para ficar longe, bem longe, de potó, esse besouro do capeta (risos).

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br

Fonte das informações sobre o potó: VEIGA, R. M. de O. ‘Potó: um inseto que queima’. “Revista de Ensino de Ciências”. São Paulo: Instituto Butantan, n. 17, março de 1987, p. 44-45.