Preconceito

As pessoas pobres eram profundamente preconceituosas; a vida das classes elevadas da sociedade era encarada, não como uma contingência das oportunidades da vida, mas como um prêmio sem merecimento. Seria mais fácil descambar para os desvãos de uma vida de transgressão, mesmo com os riscos inerentes àquele comportamento. Como explicar um esforço inútil dos pais que trabalhavam muito? Andavam, vestiam-se e alimentavam-se mal e viviam com os narizes feridos pelos cheiros nauseabundos do esgoto a céu aberto. As piores escolas, onde os professores provindos dos centros de formação da pior espécie ministravam ensino de baixa categoria, em troca de salários irrisórios; ali se forjavam as crianças no desprazer da leitura, do ensino como obrigação - árdua obrigação! Seria mais cômodo o ganho rápido e fácil, muitas vezes sem conseqüências...Por isso, era necessária uma atenção redobrada para resistir àqueles impulsos e aos maus conselhos. Hoje, os conselhos são dados por maus políticos, que ensinam a técnica de roubar em dólares, evidentemente nos referimos àqueles, que de fato roubam...e em dólar! O projeto dos CIEPS constituía uma saída, e em pouco tempo ficou obsoleto, pela falta de continuidade na política da educação, assim como, pela baixa remuneração, que fez com que os melhores professores procurassem os ricos cursinhos, para demonstrar sua competência. O governo deveria dar uma trava nos projetos de fachada, parando 2, 3, 5 ou mais anos, dedicando-se apenas ao óbvio. Casa para todos, com saneamento básico, água e esgoto decentes, ruas arrumadas, com ou sem calçamento, mas sem esgotos a céu aberto. A política de empregos levada ao extremo de seriedade, sem culpar o aumento da natalidade, como se busca fazer. As pessoas tendo o básico, pois, o básico para todos, cria uma possibilidade de viver sem tantas angústias; os que criticam e reclamam dos países que dão o básico para a população, fazem-no porque criticam de um ponto de vista acadêmico...Imaginem se um morador de um apartamento de 500 metros numa avenida litorânea, acredita que o povo quer além do ópio...Os governos devem aumentar a segurança, para garantir as pessoas, o patrimônio, e bancar a contenção das encostas, para que não se desbarranquem seus jardins...

Falava do preconceito entre as pessoas mais pobres e que hoje mudou de perfil; os traficantes que ocupam verdadeiros guetos constituídos pelas favelas escolhem nas famílias seus asseclas e suas mulheres, muitas das vezes, nem ainda menstruadas; o traficante passa a ser herói, tribunal e juiz, que decide à sua maneira, a melhor conduta naquela sociedade marginal. É necessário ser mais do que uma criança prodígio, para conseguir sobreviver às tentações, às emulações e até mesmo sobreviver no sentido mais claro do termo. A miséria, de fato e de direito do povo, serve apenas para render votos e prêmios em festivais de cinema, ou para deixar sem apetite do salmão, as socialites que, por curiosidade ou sem melhor programa, assitiram filmes como Amores Brutos ou Cidade de Deus. Lembro-me dos discursos de Lacerda, quando pretendia extinguir as favelas, fazendo núcleos populacionais longe do mercado de trabalho etc. posso compreender em que resultou tal experiência! É necessário fazer-se alguma coisa, da maneira mais revolucionária e urgente possível; mesmo que o protesto seja apenas uma figura de retórica para compor uma das rogimanias! Se nada for feito de maneira concreta, continuaremos a ter o desgosto, a tristeza e a vergonha de ver seres humanos mortos e jogados em carros de supermercado, largados no meio de transeuntes que passam como se nada estivesse acontecendo! Foi o que mostrou a primeira página do Globo de ontem.