POIS PORTUGAL FOMOS NÓS.

Portugal enfrentou a França numa partida de futebol. Não queria falar sobre o assunto, apesar de gostar muito de futebol e torcer, há séculos, pelo centenário e glorioso Grêmio Futebol Porto-alegrense, “com o Grêmio onde o Grêmio estiver” – como diz a letra do hino escrita por Lupicínio Rodrigues. Isso porque falar/escrever sobre futebol é para especialistas no assunto, que são os cronistas esportivos; e como um outro inigualável Rodrigues, o Nelson, talvez o Tostão se aproxime dele. Portanto não vou me ocupar disso, mas torci com fervor por Portugal, sem dúvida. Mas por quê?

A resposta me trás Kethleen, que trata do assunto, e Henricabilio, que faz comentários, os quais acabo de ler aqui no Recanto das Letras. Não sou português de nascimento embora possa sê-lo de outras maneiras, mas meu sobrenome não deixa duvidas quanto à origem de minha descendência. Não é russa, bem se vê. Não sendo lusitano sou lusófono, pois não!

E se por todos esses motivos ainda assim fosse pouco torcer por Portugal nessa Copa do Mundo, tenho lá seu “selecionador”, nosso Felipão, meu conterrâneo que já foi técnico vitorioso do Tricolor dos Pampas com sua “garra, energia, paixão e convicção”. Assim, ver Portugal jogando é ver a alma gaúcha em campo.

Pois a faixa esticada entre duas árvores no bairro da poétika amiga virtual Kethleen que diz “Portugal também somos nós!” não é, então, um simples consolo. É mais um desejo, uma esperança, até, quem sabe, de ver a seleção lusa nessa disputa com a garra da nova família scolari, para quem o importante, na competição, é ganhar. Bem ao contrário de nossos exauridos, bilionários e pedantes penta campeões de futebol. Nada tenho contra os exauridos ou os bilionários; mas ter que suportar pedantes e ainda por eles sofrer é masoquismo em estado puro. É isso mesmo, Kethlenn, vamosimbora! descobrir Portugal.

E agora, nesse embalo, quem sabe comecemos a conhecer mais Portugal, como propõe Henricabilio, preocupado em ser mal interpretado. Não o serás. Nós, brasileiros em geral, sabemos pouco de nossas origens, de nossos etos. Somos pândegos, pois sem entender a lógica lusa fazemos dela incontáveis e ofensivas piadas.

Somos desconhecidos, uns para os outros; portugueses e brasileiros somos ainda mais estranhos do que os íntimos que já fomos. Afora o samba e as telenovelas o português comum sabe pouco ou quase nada, de nossa literatura, teatro, artes plásticas, ciência, tecnologia...e não é por falta de políticas culturas pois elas existem e estão postas em pratica por diversas entidades públicas e particulares. Lusófonos que somos, reunidos numa comunidade de sete países, o brasileiro comum deve lembrar de Amália Rodrigues, mas nunca ouviu falar de Cesaria Évora. José Saramago não nos é totalmente estranho, mas ninguém sabe que o escritor angolano José Luandino Vieira ganhou o prêmio Camões, o mais importante galardão literário de língua portuguesa, atribuído pela Fundação Biblioteca Nacional, de Portugal, este ano (ano passado foi Ligia Fagundes Telles, do Brasil) de 2006. Porém, Luandino Vieira recusou-se a receber o premio de 100 mil euros alegando “razões pessoais, íntimas”. Como ativista pela independência de Angola, Luandino Vieira foi preso e condenado a 14 anos de prisão, oito dos quais passados num campo de concentração, pelo governo fascista de Antonio de Oliveira Salazar.

Estamos isolados e solitários na América do Sul rodeados pelos sons das falas espanholas e ainda assim há quem ache que os portugueses é que falam nossa língua com sotaque. Não sabem que “quem vai ao fado, meu amor, sente que a alma ganha asas e quer voar”.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 05/07/2006
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