Pirula - A Porquinha do Rabinho Enrolado - Histórias da minha infância - VI

Um pouco de história da Pirula – A Porquinha do Rabinho enrolado.

Lembranças de minha infância, tipo 8, 9 anos. Minha mãe, que era professora, gostava de contar histórias com moral, para que eu e minhas irmãs aprendêssemos a dar valor nas coisas pequenas, a obedecer aos mais velhos, a respeitar os semelhantes e animais. Adorava ouvir a minha mãe contar suas historinhas em dias de chuva, ela sabia de tantas! Também cantarolava as músicas que acompanhavam as histórias. Entre tantas, tem duas que eu jamais esqueci. A primeira, era a história de uma Juriti que tinha os seus filhotes roubados, mamãe contava a historinha e cantava a canção e nós enchíamos os olhos de lágrimas, a letra da música era triste...e no final ela dizia: Não peguem nunca os filhotes de passarinhos ou mesmo os ovinhos dos ninhos, a mãe deles ao chegar dos seus vôos e não os encontrar, gritará, piará e chorará de saudade de seus filhinhos. Aproveitava para dizer: Nunca aceitem convite de estranhos para irem passear, eles podem seqüestrar vocês...Nós arregalávamos os olhos com medo e obedecíamos, a lição era aprendida.

A canção até hoje ecoa na minha mente, volta e meia, mamãe ainda canta a musiquinha.

A outra história é a da Pirula, a Porquinha de Rabinho Enrolado, contada no livro da Therezinha Casasanta. Eu vivia com os cabelos molhados. Todos os dias quando voltava da escola, resolvia parar em um Igarapé próximo à minha casa, tirava o uniforme e apenas de calcinha, pulava dentro da água, era uma delícia, mamãe queria que eu cuidasse melhor dos cabelos que eram negros como a noite sem luar, longos e lisos, ela fazia cachinhos, mas não conseguia ficar sem molhar um só dia. Mamãe sabia de cor a história da Pirula, dizia, você Adilene, está fazendo como a porquinha que desmanchou o rabinho, vai para a escola com os cachos que faço mas desmancha tudo pulando na água. E ela cantava a musiquinha e ilustrava a historinha. Eu ficava imaginando aquela porquinha linda saltitante, com o rabo enfeitado com laços cor de rosa, que escolheu aquele dia para passear mas não aceitou levar a sombrinha como a sua mãe mandara, e ainda retrucou com a sua vozinha melosa: “O dia é de sol, não vai chover”. A sua mamãe sabe-tudo dissera que choveria, mas a travessinha nem ligou, saiu toda feliz com o seu rabinho enfeitado . De repente...trurrrmmm , trrummmm, os trovões começaram a ressoar, a porquinha passou a tremer, tinha medo dos trovões. Raios cortavam o céu, o vento soprava levemente uma brisa geladinha, Pirula ficou arrepiada, começou a chorar, dizendo:- Quero a minha mãe, o meu rabinho está molhando, não tenho onde ficar, a rua está alagada, e começou a correr rumo à sua casa. Chegando lá, a mamãe dela estava na porta aguardando a sua filhinha, longe, avistou a porquinha correndo na chuva, seu rabinho escorrido perdera toda a beleza, já não tinha cachinhos...Sua mãe rapidamente a enxugou fortemente seu corpo, e falou para a sua filhinha que se ela tivesse levado a sombrinha, nada daquilo teria acontecido, enquanto friccionava o corpo da porquinha, ensinava-lhe uma lição, o da obediência, depois de cantar, conversar, a mamãe da Pirula colocou papelote para enrolar de novo o rabinho da filhinha que foi dormir pensando o quanto era bom ter uma mãe amorosa, não antes de beijar e falar que amava sua mãezinha, aprendera a lição, nunca mais sairia na chuva sem proteção.

Minha mãe contava essa história repetidas vezes, e nós, não nos cansávamos de ouvi-la. Ela não seguia o livro de forma integral, mas floreava de acordo com a necessidade, como era bom ouvir as historinhas contadas por dona Beth, ficávamos quietinhas...

A letra da musiquinha é assim:

"A Pirula saiu de casa, nem a sombrinha ela quis levar

Mas a chuva caiu depressa e a Pirula pôs-se a chorar

E o seu rabinho que era enroladinho, ficou que pena esticadinho

A Pirula voltou pra casa e pra mamãe ela foi contar

A mamãe fez um papelote para o rabinho dela enrolar

E o seu rabinho que estava esticadinho, ficou de novo enroladinho..."