UM CARONA DE PESO


Rodovia Engº Constâncio Cintra SP-360
Imagem de Arnaldo Agria Huss

Cena 1 – Ano de 2000: Viajo de carro com meu filho mais velho no interior de São Paulo, através da rodovia Engº Constâncio Cintra, SP-360, trecho entre Morungaba e Amparo. É noite e a estrada sinuosa tem pista simples e sinalização de solo deficiente. Pouquíssimo movimento. Num cálculo mal feito em uma curva, saí ligeiramente da pista e fui para o acostamento, irregular e em desnível. Senti algo anormal, mas segui viagem sem parar. Mais à frente percebi o carro instável e tive que parar. Pneu dianteiro direito furado e uma calota perdida. E nós sem uma lanterna ou algo que pudesse iluminar o mínimo que fosse aquele breu total. Pensei: quem vai parar a uma hora dessas e num lugar desses para nos ajudar? No que acabo de pensar, para um carro sem nem mesmo termos pedido, o motorista desce com uma lanterna e nos ajuda na troca do pneu. Dentro do carro também estavam uma mulher e uma criança. Agradeci e, assim como chegou, o desconhecido partiu. Nunca soube quem era e nem o motivo pelo qual parou numa situação daquelas. Segui viagem tranquila até meu destino comentando o ocorrido com meu filho que também custava a acreditar.
 
Cena 2 – Ano de 2002: Rodovia Campinas / Casa Branca, SP-340, trecho entre Mogi Guaçú e Casa Branca. Pista dupla, pavimentação excelente, sinalização aérea e de solo perfeitas e, é claro, pedágios. Mas, pelas condições da rodovia, são até bem aceitos. Para quem conhece esse trecho a que me refiro, sabe que são pouquíssimas as áreas de escape, pois grande parte da rodovia é ladeada por morros e/ou proteções metálicas (guard-rails). Viajo sozinho com meu carro, a trabalho, no sentido de Casa Branca. Sinto-me cansado, acordei muito cedo, mas insisto em continuar, pois tenho hora para chegar a Mococa, meu destino final. Acontece o previsível. Um cochilo no volante e saio da rodovia numa das áreas de escape existentes. Um gramado perfeito, sem guard-rail, alagadiços ou irregularidades. Quando volto a mim procuro entender o que aconteceu. Recobrado do susto, sigo viagem até parar num posto de gasolina, lavar o rosto diversas vezes e tomar um café bem forte. Nada aconteceu a mim e nem ao carro.
 
Cena 3 – Ano de 2009: De novo,Rodovia Engº Constâncio Cintra, SP-360, agora no trecho entre Itatiba e Morungaba. Percebo uma carreta com movimentos suspeitos se aproximando atrás do meu carro. Ainda está bem longe, mas dá para sentir algo estranho, e decido ir para o acostamento deixando-a passar. À minha frente uma fila de carros, pois outra carreta retardava o trânsito. Assim que passou por mim, uns 50 metros adiante, uma freada brusca, arrastar de pneus da carreta no asfalto, fumaça de borracha queimada, a carreta saindo de lado em relação ao cavalo, um susto enorme e, felizmente, o motorista irresponsável conseguiu contornar a situação sem atingir ninguém. Fiquei pensando: se não tivesse ido para o acostamento e estivesse ocupando o espaço físico como último da fila, será que a carreta (carregada) não teria me atingido? O que me fez ir para o acostamento?
 
Há quem diga que os anjos estão de volta. Um pouco estranha esta frase, pois, na verdade, eles nunca nos abandonaram. É possível sentir a presença deles nas mais diferentes formas e com os mais diversos nomes. Eu prefiro chamá-los de “anjos da guarda” e, certamente, o meu estava de carona nas três situações que relatei acima.
 
Pensando bem, não importa muito que não pensemos neles, mas é bom ter em mente que sempre estiveram ao nosso lado. Eles podem se manifestar à nossa volta, usando todos os tipos de artifícios de que dispõem para que entendamos seus “sinais”. Por muitas vezes eles podem até adquirir a forma de uma figura humana, como no caso que relatei na Cena 1 deste texto. Uma situação crítica, de onde surgiu do nada uma pessoa estranha com o único intuito de ajudar naquele momento e depois simplesmente desaparecer.
 
Mas eles não precisam vir necessariamente na forma humana. Aquela pessoa que tinha vôo marcado, perde o horário e o avião cai. Alguém que se abaixa para pegar um papel e, no exato momento, uma bala perdida passa sobre sua cabeça; e o papel não era nada importante. Ou ainda quando estamos aflitos em busca de uma resposta para algum problema e, para nos distrairmos, abrimos um livro para ler, quando, na página aberta, está a resposta que tanto buscamos.
 
Nossos anjos nos mandam mensagens constantemente; basta estarmos atentos.
 
 
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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 28/10/2009
Reeditado em 28/10/2009
Código do texto: T1891009
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