Casal Continental@

Conheceram-se; na verdade reconheceram-se.

Ele era o que continuou sendo sempre; baixo, semibarbado, semibabado e barrigudo. Exalava avanço-Suor, hálito aroma hortelã... Revoltado por excelência.

Ela, lourinha, olhos azuis sabão em pó, sardas, roliça, pequenininha e assanhadinha. Coitadinha por preferência. Seus sonhos eram minúsculos; sonhava com uma casinha, um maridinho, umas pestinhas, uma vidinha sossegadinha e miseravelzinha.

Eis que surge diante de seu hálito batom morango, aqueles maravilhosos olhos tom-fezes.

Dá-se o clima, o clímax.

Ele, que tudo sonhava largo - um empregão, um casarão, uns molecões - ao vê-la, logo fica estonteado com a “virgibilidade” da moçoila, sempre atento a grande teta para amamentação de seus futuros pimpolhos.

Dialogam.

Ela abestalha-se diante do falar espumante do grande homem, enquanto este, já aproveita para “desvirginá-la” na primeira oportunidade.

Casaram-se num inexorável sábado, às 18h30min, honrados com a presença dos convidados da igreja, e felizes com os da recepção para os mais chegados, na casa da mãe da noiva.

Que beleza de bolo de coco, colchão-de-noiva!

Valeu pelos dois liquidificadores e o penico que a mãe do noivo, precavida, enche de espumante "Chuva de Ouro" juntamente com as típicas linguiças amarradas nos tomates, e faz os noivos beberem.

Já às 21h30min, eles partem rumo a Praia Grande, altura de Iemanjá,para a lua-de-mel, ao sabor de um quarto e cozinha atarraxado de baratas. Depois da clássica faxina, caem na cama quadrada e já na primeira vez ficam redondos.

Ele baba feliz nas orelhas dela e ela, feliz, baba plena da sua goma cândida que no fundo da sua consciência, conscientiza-se que será o futuro perfume da sua existência.

Quinze anos depois, o maridão gestor de uma casa e três filhos (é bonito ter três), todo sábado, domingo e feriado, compra quatro e 1/2 kg de coxão mole, e faz churrasco para seus amigos e outros maridões.

Olhando os camaradas, berra para os filhos:

- Eu trabalhei como um miserável. Seu pai, quando era moleque como vocês, não tinha nada do que vocês têm! Eu comia quirelinha seus miseráveis! Qui-re-li-nha! E você, sua fulana, me espera só para me infernizar! Eu vou comprar uma pizza e dar umas porradas nesses moleques! Eu sou bom! Eu sou ótimo! Eu, eu nem existo! E lá vai o homem pelos 2m2 do seu quintal a esbravejar.

Ela olha aquele olhar compreensivo e obediente, aquele profundo saber, que ele acima de tudo, é a verdade pura e crua, personificada no alto de seus múltiplos chifres.

Ela só existia nos documentos, claro que graças ao sobrenome que ele lhe deu; ele vivia porque, ele é ele.

PS: Descobriu-se pouco depois que: ele foi preso; vendia cocaína no

bairro; ela assumiu que transava com garotos, todos eles, clientes do seu marido.