TEMPERO CASEIRO

Apelidado “Sete Lagoas” (uns e outros também o chamam de Seu Sete), o meu amigo e quase conterrâneo Sergio (nasci no Cedro, apenas dez minutos a mais de carro, depois daquela bela e aprazível cidade do interior mineiro) adora futebol e é também cruzeirense, como este escrevinhador de quimeras.

Sua mulher, Dona Lea, trabalha em casa, fazendo um extraordinário tempero caseiro que o “Sete Lagoas”, após embalar cuidadosamente, sai a vender pelos bares, restaurantes e botequins da periferia de Belo Horizonte, onde possui freguesia cativa.

Certa vez ele me presenteou com um vidro do famoso tempero, do qual só restou a saudade (não sobrou nenhuma porção, nem pra remédio). Excepcional!

Mas, o fato é que o amigo “Sete” corta a cidade em todas as direções, norte, sul, leste e oeste, arriscando vez por outra uma visita ao interior próximo (Pedro Leopoldo, Matosinhos e a sua terra, a própria Sete Lagoas), carregando o imenso balaio repleto de papelotes e vidrinhos do seu tempero. Sai de manhã e retorna à noitinha, de balaio vazio e o bolso cheio do cobre que há de sustentar mulher e três robustos filhos.

Aí toma um banho, arranja uma pequena vasilha com um tira-gosto preparado pela Dona Lea, usando o seu gostoso tempero (naturalmente) e desce a rua em direção ao Bar do Espirro, ao encontro dos amigos e da cervejinha costumeira de todas as noites.

Ao passar pela minha casa, na esquina, uma quadra antes do bar, costuma ser por mim abordado. Aí, exerço com toda a dignidade a minha função especial de “provador” (ou “Controle de Qualidade”, como diz o Ticreca):- paro o “Sete Lagoas”, examino o que contém o pratinho recoberto por um guardanapo e dou uma beliscada (pequenas rodelas de lingüiça de lombo com cebola, berinjela empanada, mandioquinha frita, camarãozinho frito, costelinha, moela de galinha, pescoço de peru, etc., etc.).

Em contrapartida, ofereço (e ele aceita de bom grado) um gole da cachacinha de alambique, vinda daquelas nossas bandas (Cedro, Paraopeba, Sete Lagoas). Vira o cálice, estala os dedos, agradece, ouve o meu elogio ao seu tira-gosto e segue o seu caminho, já de posse do alvará que libera o petisco aos demais amigos do Bar do Espirro, que o aguardam com impaciência.

Lá, entre “ampolas” de Brahma gelada, no ponto em que o Espirro (só ele) sabe oferecer, as bicadas de aguardente e as porções do tira-gosto feito com o seu gostoso tempero, o “Sete” conversa, ouve e conta “causos”, ri e chora na convivência dos seus pares.

E assim a vida segue na Cachoeirinha, esse aconchegante bairro da capital mineira, onde vivo cercado de amigos, flores e passarinhos! ...

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B.Hte., 30/05/97

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 31/10/2009
Código do texto: T1896818
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